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Uma grande, e boa, mudança na eleição
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Uma grande, e boa, mudança na eleição

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O horário eleitoral começou ontem no segundo turno, desvalorizado de forma como nunca havia sido. O primeiro turno demonstrou irrelevância inédita dessa forma de propaganda. Até então, duvidava-se da viabilidade de Jair Bolsonaro (PSL) sustentar a vantagem partindo de oito segundos de propaganda. Aqui mesmo eu questionava essa possibilidade. Pois ele terminou a campanha com mais do dobro das intenções de voto que tinha ao começar. Da mesma maneira como parecia óbvio que Geraldo Alckmin (PSDB) fatalmente iria subir, partindo de cinco minutos e 32 segundos no rádio e na televisão. Aliás, ao fechar aliança com o Centrão, parecia que o tucano havia garantido a viabilidade de forma inequívoca. Pois ele terminou com a metade do que tinha no começo da disputa.

 

Bolsonaro é personagem que subverte todas as regras. Já é estudo de caso a ser analisado nas pesquisas acadêmicas sobre marketing político. Criou método de construção permanente de imagem pública nas redes sociais. Arregimentou seguidores fanáticos, aguerridos e barulhentos, que divulgam seu nome e conseguem adeptos. Esse trabalho começou em 2014 e, quatro anos depois, tornou totalmente irrelevante o pouco tempo no horário eleitoral. O tempo de TV e rádio de um candidato nanico não teve peso rigorosamente nenhum.

 

Como personagem fora da curva, Bolsonaro por si não atesta a perda de importância do horário eleitoral. Mas Geraldo Alckmin sim. Vá lá que Bolsonaro se mantivesse na frente e até crescesse. Mas ainda não explicaria Alckmin estancar. O tempo dele somado era praticamente igual ao da soma de Fernando Haddad (PT), Henrique Meirelles (MDB), Álvaro Dias (Podemos) e Ciro Gomes (PDT), candidatos que apareciam logo atrás dele. Mesmo assim, a candidatura não emplacou. Eram cinco minutos e 32 segundos de programa, duas vezes ao dia, em contraponto aos oito segundos de Bolsonaro. Tempo que não teve efeito nenhum. Zero. Isso não tem precedentes.

 

A mudança, em primeira análise. Pode ir além da política. Passa por comportamentos e dinâmicas sociais. Mudança vertiginosa nas formas de interagir, informar-se e tomar decisões. A TV perde protagonismo para canais digitais. A diminuição da relevância é maior do que se imaginava. O compartilhamento ganha protagonismo.

 

Há muitos riscos aí. O maior deles é palpável, com a dificuldade de distinguir o verdadeiro do falso. Com a forma como mentiras são criadas e disseminadas com propósitos eleitoreiros.

 

Mesmo assim, com todos os riscos, essa mudança pode ser ótima notícia.

 

A novidade que pode mudar a política

Uma eleição é pouco para confirmar a mudança de tendência tão consolidada até então. Porém, a se manter nos próximos pleitos, será mudança política profunda e, potencialmente, positiva.

 

Hoje, todas as negociações giram em torno do tempo de rádio e televisão. Vende-se a alma, como disse Ciro Gomes (PDT) em relação ao Alckmin, a respeito de o tucano ter atraído o Centrão em troca de tempo no rádio e na televisão. O fator tempo é o trunfo de partidecos nas negociações.

 

Se a TV perde força, cai drasticamente a relevância de acordos como o que levou 24 siglas à coligação de Camilo Santana (PT). O espaço de barganha dos dirigentes partidários despenca. Isso pode ser maravilhoso.

 

No médio prazo, os partidos que existem apenas como cartórios de registro de candidaturas e negociação de tempo de TV tendem a se esvaziar e perder o sentido. Vai-se assim uma das chagas da política brasileira.

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A marca brasileira

Marine Le Pen criticou as manifestações de Jair Bolsonaro (PSL), disse que as posições são "extremamente desagradáveis" e não seriam aceitas na França. Disse ser uma cultura diferente.

 

Le Pen é ícone da extrema-direita europeia. Suas posições assustam muita gente. Mas, para ela, Bolsonaro é demais. Bolsonaro também tem posições mais extremas que de Donald Trump, por exemplo. Nem ela nem ele defendem regime ditatorial e fazem apologia de torturador.

 

O Brasil caminha para eleger o presidente mais conservador entre as democracias relevantes do mundo.

 

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