É possível que a eleição termine já neste domingo, com vitória de Jair Bolsonaro (PSL)? Chance existe, mas não pelo que apontam as pesquisas. Na matemática fria, Fernando Haddad (PT) está mais perto de passar Bolsonaro do que o candidato do PSL de vencer no primeiro turno.

 

Explico: para vencer domingo, Bolsonaro precisa ter mais votos que todos os demais somados. Hoje, para ele, a distância é de 22 pontos percentuais. A distância dele para Haddad é de 11 pontos.

 

Claro, se Bolsonaro tirar votos dos demais candidatos, para cada eleitor que atrai, tira um do outro lado. Então, bastaria crescer 11 pontos. Porém, ele pode crescer também em cima de brancos, nulos, indecisos. E a mesma lógica vale no caminho inverso. Se Haddad tirar votos de Bolsonaro - por improvável que seja a migração de um para outro, em qualquer sentido - ele precisará crescer seis pontos.

 

Também o histórico não aponta para definição em um turno. Isso nunca ocorreu neste século. Nem mesmo Luiz Inácio Lula da Silva (PT) venceu em um turno. Só quem conseguiu foi Fernando Henrique Cardoso (PSDB), com a força da máquina federal e em quase todos os estados, de forma que mesmo o PT nunca teve.

 

Um candidato de oposição - sem tempo de propaganda, sem estrutura, sem apoios e sem dinheiro - conseguir o mesmo feito seria não apenas impressionante. Seria contrário à lógica como a política funcionou até hoje.

 

Ocorre que há vários sinais de que essa lógica mudou. O que valeu até 2015 ou 2016 não vale mais hoje. Por isso, contra todo o histórico e mesmo contra o que indicam as pesquisas, pode haver surpresa domingo.

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As chances de definição

Bolsonaro tem crescido e esse movimento importa mais que o número estático das pesquisas. Pode terminar no primeiro turno caso se forme uma onda.

 

Se houver fenômeno de voto útil. Se eleitores de Geraldo Alckmin (PSDB), Marina Silva (Rede), João Amoêdo (Novo) e Henrique Meirelles (MDB) migrarem todos para Bolsonaro, ele vence no primeiro turno. Não é provável, mas é possível.

 

É improvável porque muitos eleitores desses candidatos não engolem Bolsonaro. Muitos eleitores de Marina, em particular. Porém, há espectro maior de votos para Bolsonaro atrair. De brancos e nulos, 8% no Datafolha. De indecisos, 5%.

 

A hipótese não é provável, mas já foi mais distante. Principalmente, porque as últimas pesquisas trazem o maior crescimento de Bolsonaro em toda a eleição. Ele está em seu melhor momento, justo na fase mais importante.

 

O gesto destrambelhado de Moro

Sérgio Moro não agiu com a postura que se espera de um magistrado ao divulgar o depoimento de Antonio Palocci (PT). Salvo explicação que ainda não apareceu, foi tentativa de interferir na eleição.

 

Vale lembrar episódio recente. Em agosto, Moro adiou depoimento de Lula, que estava marcado para 11 de setembro, com justificativa de "evitar a exploração eleitoral dos interrogatórios".

 

Ora, se depoimento é processo criminal não pode ocorrer um mês antes da eleição, o que justifica divulgar depoimento dado em abril a uma semana do pleito?

 

O PT tem muito a explicar sobre Palocci. Ele era alguém de centro da cozinha. Nos dois ciclos de governos do partido, ele começou como ministro mais poderoso. Caiu com dois escândalos graves. Falta de sinais não foi. Mas, só agora o partido se diz surpreso pelo que ele diz.

 

As denúncias dele têm mais peso do que um depoimento comum. Mas, precisam ser provadas. E, de todo modo, não há o que explique a divulgação neste momento. Parece até que ficou guardado a espera da ocasião oportuna - ou inoportuna.