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Nova modalidade de fraudar propaganda
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Nova modalidade de fraudar propaganda

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A eleição de 2018 está consagrando nova forma de fazer campanha eleitoral, que quebra todos os paradigmas clássicos. Inclusive, cria novas modalidades de desequilíbrio da disputa, de abuso de poder econômico, de fraude eleitoral. A informação trazida pela Folha de S.Paulo é muito grave. Empresas estariam comprando pacotes de disparos via de WhatsApp. O plano seria enviar centenas de milhões de mensagens contra a candidatura de Fernando Haddad (PT) na última semana de campanha.

 

Há alguns crimes eleitorais aí: empresa não pode mais doar para candidato. O dinheiro não poderia ser declarado. Portanto, caixa dois. As empresas usariam bancos de contatos vendidos por agências de estratégia digital. Outra ilegalidade. A lei só permite uso de listas de apoiadores reunidos pela própria campanha, com números cedidos voluntariamente. Segundo a Folha, os contratos de compra dos disparos chegaria a R$ 12 milhões.

 

O potencial estrago da ofensiva é descomunal. Até 2014, nada era mais importante numa campanha que o tempo de rádio e televisão. Neste ano, esse fator se revelou de uma irrelevância desoladora. Candidatos com muito espaço, como Geraldo Alckmin (PSDB) e Henrique Meirelles (MDB), tiveram desempenho de nanicos. A mudança é mais profunda que política. É comportamental.

 

Redes sociais mudaram as formas como as pessoas se relacionam. O WhatsApp, mais ainda. As pessoas ainda assistem a muita televisão. Escutam muito rádio. Mas, o modo de consumo mudou. A possibilidade de compartilhar conteúdos tornou as mensagens mais direcionadas, o contato mais próximo. As notícias chegam menos de forma difusa e mais encaminhada por conhecidos, pessoas do convívio. É uma profunda transformação.

 

A campanha de Bolsonaro teve inteligência ao entender e explorar essa mudança. Em muitas coisas, assemelhou-se à campanha de Donald Trump. No que é legal e também no que não é. Teve mérito de, enquanto competidores esperam o período eleitoral para cair em campanha, trabalhar durante quatro anos na construção da própria imagem. Isso deu a ele o alicerce de uma militância fiel e emocional como nenhuma outra.

 

Porém, essa transformação também tem um submundo obscuro. Para além dos compartilhamentos legítimos entre conhecidos, há essa prática de spam, com centenas de milhões de mensagens em massa difundidas a alto custo, atingindo muita gente, praticamente sem controle. Como qualquer um que usa esse tipo de ferramenta bem sabe, circula de tudo. Informação verdadeira, outras forma de contexto, meias verdades até os mais escabrosos absurdos. Não falta quem acredite.

 

A vítima de um esquema como esse é a democracia. A qualidade do voto está diretamente relacionada com a informação de que dispõem os eleitores para decidir. Nunca a população esteve imersa em tanta informação. Porém, a maior parte dela é mentirosa, deturpada, quando não fraude mesmo.

 

Já ouvi isso em algum lugar

Ao responder sobre o assunto, Bolsonaro disse: "Eu não tenho controle se tem empresário simpático a mim fazendo isso. Eu sei que fere a legislação. Mas eu não tenho controle, não tenho como saber e tomar providência", afirmou em entrevista ao site O Antagonista.

 

Como a resposta que virou piada na boca de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Bolsonaro diz que não sabia.

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Bolsonaro quer mudar regra do WhatsApp contra fake news

Não custa lembrar: na semana passada, em transmissão via WhatsApp, Bolsonaro disse que, caso eleito, fará com que volte a ser permitido enviar mensagem simultânea a mais de 200 pessoas pelo WhatsApp. Limitação esta imposta justo para tentar conter fake news. Mas, vamos lá: 1) a quem interessa enviar mensagem a mais de 200 pessoas? Com que objetivo? 2) Que direito um presidente, que se diz recém-convertido ao liberalismo, tem para interferir no funcionamento de um aplicativo? O capitão reformado parece previamente deslumbrado com as prerrogativas da Presidência.

 

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