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Campanha sórdida
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Campanha sórdida

Tipo Análise
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Faltam quatro dias para o desfecho do mais grotesco espetáculo eleitoral que este País jamais conheceu. Quando nada mais parecia possível numa campanha que teve candidato atacado a faca, agressões e homicídio de apoiadores, ameaças de fechar o Supremo Tribunal Federal (STF), de fazer nova constituição, de acabar com 13º salário, eis que surge o bizarro vídeo de sexo grupal cujo protagonista seria João Doria (PSDB). É lamentável pelo que expõe e pelo que fica negligenciado.

Nas últimas 48 horas, os temas mais discutidos na campanha eleitoral pelo Brasil talvez tenham sido o vídeo da orgia da qual Doria seria participante e a controvérsia sobre a Bíblia recebida por Fernando Haddad (PT) e encontrada depois supostamente jogada fora na Praça do Ferreira.

Francamente, nenhum dos assuntos deveria ter relevância para escolha de um governador ou de um presidente. A vida sexual do Doria diz respeito a ele, à mulher dele e outros eventuais parceiros ou parceiras que tenha, se forem maiores de idade. Por mais escandalizado que você eventualmente fique, se não foi convidado a participar, você não tem nada com isso. É lamentável que a intimidade seja exposta por causa de briga por poder.

Quanto à Bíblia, se tiver sido mesmo jogada no lixo, é um desrespeito pela fé das pessoas e isso é problemático. Porém, a religião do presidente está longe de ser o mais importante na opção por um candidato. Não pode, de jeito nenhum, ser o centro de uma campanha. Como católico, acho igualmente lamentável que a fé seja explorada numa futrica suja por votos.

Alguns dos piores genocidas da história eram religiosos devotos, vide Francisco Franco e Augusto Pinochet. Do mesmo modo como há entre os ateus sábios e humanistas de contribuições cruciais, como Stephen Hawking, Sigmund Freud ou o agnóstico Carl Sagan. No Brasil, Herbert de Sousa, o Betinho, foi um ateu que comandou a maior campanha social que o País conheceu. Drauzio Varella é outro ateu. Isso não pode ser transformado em questão fundamental nos rumos políticos do País. O Estado é laico e isso é uma garantia, sobretudo, a quem tem fé. É a garantia de que todos os credos serão respeitados e o Estado não será usado para proselitismo em prol de nenhum deles.

As duas situações exprimem à perfeição o que se tornou estas eleições. Aspectos da vida privada, comportamento, religião, sexualidade se tornam mais relevantes na opção dos eleitores que questões públicas. A visão de Estado, o plano para as políticas públicas prioritárias. As pesquisas apontam que o assunto que mais preocupa a população é saúde. Você saberia dizer o que o seu candidato pretende fazer de diferente nessa área, seja ele Jair Bolsonaro (PSL) ou Fernando Haddad (PT). Quase ninguém sabe e quase ninguém se importa. É absurdo que as propostas para a área que mais preocupa a população seja ignorada por parcela tão grande de eleitores. 

Pesquisa é alento para Haddad e, por enquanto, não mais que isso

A pesquisa Ibope de ontem foi ruim para Jair Bolsonaro (PSL)? Só em comparação com a situação anterior, que era excelente. Ele ainda está muito bem. Segue franco favorito. Mas, o cenário piorou para ele.

Nada dramático. Oscilou no limite da margem de erro. A questão é que votos válidos enganam. A diferença parece maior do que é de verdade. Catorze pontos, na verdade, são sete - cada ponto que um sobe, o outro cai.

A pesquisa tem de ruim para Bolsonaro o aumento de sua rejeição, enquanto a de Haddad caiu. Os que com certeza votariam em Bolsonaro diminuíram. Em Haddad, aumentaram.

Noves fora esses movimentos, todos os números de Bolsonaro ainda são consideravelmente melhores. O candidato do PSL segue franco favorito. Porém, a pesquisa sinaliza que pode haver movimento contrário. Caso se forme uma onda, até o dia da eleição a disputa pode se mostrar muito mais competitiva do que se projetava.

Eleição nenhuma se decide na véspera e isso convém nunca esquecer.

Foto do Érico Firmo

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