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Mudou tudo para todo mundo
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Mudou tudo para todo mundo

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A campanha presidencial deste ano já era a mais curta de todos os tempos. A eleição será a menos de um mês e, a essa altura, dá-se daqueles acontecimentos que mudam tudo. De consequências imprevisíveis. O ritmo da campanha mudou. Atividades de candidaturas foram interrompidas. E estratégias são revistas. A campanha que irá prosseguir será radicalmente diferente.

 

A campanha era marcada até agora por três estratégias:

 

1) Jair Bolsonaro (PSL) apostava em sua imagem pessoal. Na exposição em redes sociais e atos de rua. Explorava posições polêmicas e o confronto, sobretudo com o PT, a esquerda e ideias progressistas.

 

2) Geraldo Alckmin (PSDB), Henrique Meirelles (MDB) e Guilherme Boulos (Psol), nessa ordem, tinham como aspecto central de sua estratégia a crítica, a desconstrução de Bolsonaro. Com menos ênfase, Ciro Gomes (PDT) também. A estratégia de Marina Silva (Rede) não é bater, mas o momento em que ela bateu foi quando fez isso em debate. Justo contra Bolsonaro. Os dois primeiros pelo embate direto por votos conservadores. O terceiro pela postura ideológica diametralmente oposta.

 

3) Fernando Haddad (PT) centra sua campanha na defesa do direito de Luiz Inácio Lula da Silva (PT) ser candidato, a denúncia do que consideram golpe, articulado por forças conservadoras, com intenção, conforme o PT denuncia, de adotar programa de retirada de direitos sociais e prejudicar os mais pobres.

 

Basicamente, essa era a configuração da campanha até aqui. Isso muda para todo mundo.

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A nova configuração da campanha

Novidades introduzidas no novo quadro eleitoral:

 

1) Bolsonaro sai de sua tradicional posição beligerante e se coloca como vítima. É condição diferente da que ele exerceu toda vida. Ele sempre foi a pessoa de bater. A mudança pode ter sua conveniência. Até então, ele havia chegado ao seu topo. Atingido um teto de eleitores que vinha sendo difícil de ultrapassar pelos métodos usados até então. É provável que a nova condição ajude a reduzir sua enorme rejeição. A tendência é que cresça nas próximas pesquisas. A dúvida é como seus próprios eleitores irão reagir a um Bolsonaro que, no lugar de conclamar seus seguidores a metralhar a petralhada" diz: "Nunca fiz mal a ninguém". É um grande reposicionamento de imagem. Não é algo que tenha escolhido. Porém, é mudança muito grande faltando tão pouco tempo para a eleição. Além do mais, a campanha de rua e a intensidade das aparições em redes sociais irão diminuir. Também a gravação dos segundos no horário eleitoral fica comprometida. Em síntese, se tem fator psicológico e simbólico a seu favor, Bolsonaro perde a possibilidade de efetivamente fazer o que vinha sendo mais importante em sua estratégia.

 

2) Quem vinha batendo em Bolsonaro terá de calcular os próximos passos. Meirelles e Boulos não parecem ter muitos horizontes. Ciro corre em outra raia. Disputa eleitores de centro-esquerda, que não votam em Bolsonaro e são afrontados por ele. Alckmin, por sua vez, não tem opção. Se não tirar votos de Bolsonaro, sua candidatura está fadada ao fracasso. A forma é como fazer isso. Se bater, corre o risco de fortalecer justamente a condição de vítima do candidato do PSL. Tanto que sua candidatura já tirou do ar as propagandas com ataques. As mesmas que Bolsonaro tentou tirar do ar por via judicial.

 

3) O PT preparava grande ato para substituir oficialmente Lula por Haddad. Isso terá de ocorrer até terça-feira. Porém, o clima é outro, é pesado. Há certa delicadeza em confrontar as forças conservadoras, personificadas em Bolsonaro melhor que em qualquer outro. Discurso que tem sido ensaiado é o de que a postura beligerante do candidato do PSL conduz a reações desse tipo. A ideia de "olho por olho" é cruel, sobretudo nos instantes após o ataque. Vários petistas foram infelizes ao se referir nesses termos no calor da comoção. Porém, é discurso que pode, sim, pegar. Sobretudo, por dialogar com o cerne da lógica de Bolsonaro. Do uso de armas para se defender. De que quem comete ato de violência faz por merecer castigo na mesma moeda. Bolsonaro, além de sugerir metralhar petistas, tratou com ironia os disparos contra comitiva de Lula no Paraná e disse que o ataque teria sido forjado. A forma como ele tratava adversários e como se postou quando estiveram em situação similar poderá cobrar dele o preço agora.

 

Foto do Érico Firmo

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