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Establishment vai procurar alternativa
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Establishment vai procurar alternativa

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Cada vez mais, as pesquisas sinalizam para segundo turno entre Jair Bolsonaro (PSL) e Fernando Haddad (PT). Caso um deles fique fora, o mais provável "intruso" é Ciro Gomes (PDT). Nenhum dos três é exatamente candidato ao feitio do chamado establishment. O termo inglês designa conjunto de pessoas, instituições e ideias que tradicionalmente governam uma sociedade. O segmento social que detém o poder. Perpassa o mercado, meios intelectuais, a produção cultural, os meios de comunicação. Por razões distintas, nem Bolsonaro nem Haddad pertence a essa turma. Ciro é egresso desse grupo, mas hoje é visto como estranho. Não há registro na história brasileira de uma eleição na qual o "andar de cima", como resume o jornalista Elio Gaspari, tenha estado tão sem opção, ao menos até aqui. Irônico desfecho dos turbulentos anos que o Brasil atravessa.

 

Mas, ainda estão rolando os dados e eles ainda não estão derrotados. Os atores do mercado irão fazer uma última investida para emplacar alguém mais ao seu feitio. Geraldo Alckmin (PSDB) é o nome mais viável. João Amoêdo (Novo) chegou a ser acalentado por alguns, Henrique Meirelles (MDB) nem chegou a isso. Ao menos Marina Silva (Rede) seria mais palatável.

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A opção Ciro

Se nenhum deles se mostrar viável, o establishment partirá para a redução de danos. Ciro Gomes é sem dúvida mais palatável a eles que Bolsonaro ou Haddad. Aliás, o pedetista é visto com reservas mais pelo discurso que pela prática. Na sua última experiência como chefe do Poder Executivo, pelo PSDB e à frente do governo cearense, não foi propriamente alguém que tenha causado qualquer incômodo ao empresariado ou aos investidores. Longe disso. Saiu para ser ministro da Fazenda no meio de uma campanha presidencial e no meio de uma crise. Era alguém para dar confiança ao mercado. Verdade que comprou muitas brigas e desagradou muita gente. Mas passou longe de ser ruptura.

 

Abraçou discurso desenvolvimentista, identificado hoje com a esquerda. Mas a história de Ciro não é esquerdista, em parte dela nem progressista é. No atual ciclo do grupo familiar no governo cearense, Cid Gomes (PDT) não poderia ter feito governo mais establishment, mais bem relacionado com o empresariado, mais favorável a criar saudável ambiente de negócios.

 

Ciro não é um Alckmin, não é um Meirelles, mas seria muito mais palatável a esses segmentos que Haddad ou Bolsonaro. Tanto que setores do Centrão já voltam a paquerá-lo. Os grupos tradicionais da política buscam saídas depois que seus preferidos não decolaram. O problema é que Ciro também pode naufragar.

 

Entre Bolsonaro e Haddad

É irônico que, a menos de três semanas da eleição, o PT esteja muito melhor que o PSDB, depois de tudo que transcorreu no Brasil nos últimos quatro anos. Tasso Jereissati (PSDB), na autocrítica que fez na semana passada, dá a medida do quanto a estratégia do tucanato e dos segmentos sociais que lhe dão suporte levaram praticamente à sua implosão como projeto nacional, ao tempo em que recolocou o PT no páreo. Menos pela personalidade e o perfil e totalmente pelo partido ao qual pertence e as forças políticas que representa, Haddad não é alguém tragável para o mercado.

 

Bolsonaro, pela imprevisibilidade, o perfil translocado, a falta de qualidades administrativas minimamente demonstradas, passa também longe de ser alguém com o perfil ao gosto do establishment. Entretanto, talvez seja mais que Haddad, hoje. Carlos Marun, ministro da Secretaria de Governo de Michel Temer (MDB), deu essa sinalização ao defender que o atual presidente apoie Bolsonaro em caso de segundo turno contra o petista.

 

Acenos

Bolsonaro e Haddad sabem o quanto o establishment tem peso numa campanha e, muito mais, em um governo. Nunca foi a seara do candidato do PSL, mas já há algum tempo ele tenta ganhar confiança. E o PT, mesmo com todo discurso de golpe e contra as elites, já acelerou acenos na tentativa de deixar os mercados tranquilos em relação a Haddad.

 

Foto do Érico Firmo

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