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Chamado à serenidade
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Chamado à serenidade

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O ataque contra Jair Bolsonaro (PSL) é sintoma de um País doente, que avança de forma célere em sua desagregação como coletividade. Um candidato a presidente foi atacado a faca. Provavelmente, porque alguém não aceita de modo algum que a maioria da população possa vir a escolher aquele candidato. Já escrevi aqui, seguidamente, sobre as críticas que tenho a ele. Porém, se grande contingente da população se identifica com ele, com suas ideias e o que representa, a questão colocada é muito mais profunda. Alguém disposto a matar para evitar Bolsonaro no poder, no fundo, não aceita a concepção dessa parte da população. E isso é recíproco. Já escrevi, também, o quanto a campanha de Bolsonaro se fundamenta na rejeição, negação completa daqueles a quem quer combater. É doentio. Bolsonaro foi vítima agora, como outros poderiam ter sido e podem vir a ser. É grave, é perigoso, é assustador.

 

Criou-se ambiente explosivo, resultante da confluência de crise econômica, crise política, impopularidade do governo, descrédito das forças e personagens políticas tradicionais, novas denúncias de corrupção, falta de credibilidade das instituições, polarização e predomínio no debate público de aspectos da vida privada, inclusive religiosos. O resultado é atmosfera inflamável. Diálogos estão obstruídos e não há margem para conciliação. Dificilmente quem vencer a eleição não deixará uma legião de dezenas de milhões de revoltados com o resultado.

 

Eleições, numa democracia, são momentos de repactuação. A população decide se quer continuar, se quer mudar e para o que quer mudar. Há embate de percepções e a maioria decide o caminho. À minoria cabe fiscalizar e cobrar. Mas, fundamentalmente, pactua-se a legitimidade de um novo ciclo. Não parece, todavia, que a eleição em curso será capaz de construir esse pacto. A de 2014 já não foi. Aécio Neves (PSDB) - aquele - saiu da eleição contestando o resultado. Pediu auditoria da eleição e depois entrou com ação no Tribunal Superior Eleitoral (TSE) que foi votada só depois do impeachment de Dilma Rousseff (PT) e quase tira o mandato de Michel Temer (MDB). Agora está pior, muita coisa.

 

O ambiente é de irracionalidade, de ódio. Cada lado, como sói acontecer, julga-se muito sensato, muito ponderado e razoável. Mas há no fundo o desejo de que o outro lado não existisse. Ânsia de destruição mútua.

É do jogo democrático o enfrentamento, a crítica. É do fundamento da política. É legítimo que as pessoas não queiram Bolsonaro, ou não queiram o PT, ou o PSDB ou qualquer outro. É do jogo que usem os instrumentos de que dispõem para contestar, desconstruir a imagem do outro lado e tentar evitar a chegada ao poder. É a natural disputa de hegemonia na sociedade. Política é isso. Mas, numa civilização, há limites.

 

São esses limites que têm sido empurrados cada vez mais para longe. O clima no Brasil chegou a ponto no qual a violência contra candidatos era absolutamente iminente. Se não houver uma repactuação mínima, estabelecimento de regras elementares de convívio em sociedade, o País mergulhará em época ainda mais sombria e imprevisível.

 

Mais que qualquer possível efeito eleitoral, a esperança é de que ato tão extremo possa ser chamado à razão. Não é algo sob controle de partidos, governantes, políticos. Essa compreensão precisa passar por um campo social bem maior. Infelizmente, o que parece mais possível é que o acirramento se aprofunde. Há mais coisa em jogo do que a definição do próximo presidente. Mais que no governo, o que define um País é o tecido social. Nesse campo, as coisas vão de mal a pior.

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Campanha em suspenso

O ataque a Bolsonaro deixa em suspenso uma campanha já muito curta. Ele ficará bastante tempo afastado das atividades. Vários dos principais adversários tinham como estratégia central miná-lo, tentar tirar votos dele. Isso agora exigirá certo trato na forma como será feito. A própria substituição de Luiz Inácio Lula da Silva por Fernando Haddad como candidato do PT ocorrerá em atmosfera totalmente diferente. Precisa ocorrer até terça-feira, 11, mas sem clima algum. A campanha, em síntese, deu um nó e não se sabe como irá desatar.

 

Foto do Érico Firmo

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