À esquerda e à direita, Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) adotam estratégias muito parecidas para tentar evitar o segundo turno que se desenha. Ciro tem dito, e repetiu na sabatina de ontem na rádio CBN, que Fernando Haddad (PT) é candidato marcado para perder no segundo turno. Alckmin, por sua vez, afirma que votar em Jair Bolsonaro (PSL) é abrir caminho para a volta do PT.

 

Haddad está à esquerda de Ciro, assim como Bolsonaro está à direita de Alckmin. São opções, respectivamente, à centro-esquerda e centro-direita, esvaziadas num País que tem optado por extremos. Ciro joga com o medo da esquerda de ter Bolsonaro como presidente. Alckmin recorre ao sentimento antipetista. Nenhuma estratégia deu muito certo até aqui.

 

Faltam 17 dias para a eleição. Em outros tempos, seria pouco tempo para mudança drástica. Nessa eleição tão curta e tão atípica, porém, o eleitor forma juízos e muda de opinião muito depressa. Sabe lá o que ainda pode mudar. Então, o rumo da campanha não está sacramentado. Mas, o cenário hoje indica Bolsonaro x Haddad.

[FOTO1] 

No entanto, a chance de a estratégia de Ciro dar certo é maior que a de Alckmin. Por simples questão matemática: Ciro está mais perto de Haddad. Bolsonaro está acima do petista. Alckmin, abaixo do pedetista.

 

A última pesquisa Ibope, entretanto, tira argumento de Ciro. Na simulação de segundo turno entre Bolsonaro e Haddad, eles estão rigorosamente iguais: 40% a 40%. Ciro se sai melhor? Não deixa de sair. Tem 40%, enquanto Bolsonaro tem 39%. Um ponto percentual de diferença. Não poderia estar mais dentro da margem de erro. E com trajetória pior. Na pesquisa anterior, Ciro tinha três pontos de vantagem em caso de segundo turno contra Bolsonaro. Haddad, na simulação contra Bolsonaro, tinha quatro de desvantagem.

 

No caso da comparação com Bolsonaro, não dá para saber se Alckmin se sairia melhor em um confronto com Haddad em um eventual segundo turno, pois o Ibope não fez a simulação - pelo simples motivo de que a hipótese nem no horizonte está.

 

O papel do centro

Historicamente, o centro decidiu eleições no Brasil. Costuma-se dizer, grosso modo, que há um terço à esquerda e um terço à direita. Ganha quem consegue atrair o terço que falta para seu lado. Por isso, a moderação sempre foi estratégia para vencer.

 

Essa eleição não aparenta que será diferente. No 2º turno, pela toada da procissão, vencerá quem atrair o centro. Porém, para chegar lá, os extremos estão se dando bem. É provável que nunca a opção do centro tenha sido tão complicada quanto se prenuncia.

 

As rejeições de Bolsonaro e Haddad

As rejeições dos candidatos que ocupam as primeiras colocações se comportaram, no Ibope, tal qual as intenções de voto. A de Bolsonaro oscila para cima, pouca coisa. A de Haddad dispara. Normal e esperado.

 

Sobretudo no caso de Haddad. Lula transfere para ele votos, mas também rejeição. E em quase igual medida.

 

Comércio da alma

Ciro disse, na sabatina na CBN, que Alckmin vendeu a alma por tempo no horário eleitoral. Fazia referência à aliança com o centrão.

 

Ciro tentou o quanto pôde atrair o centrão. Inclusive, como tinha muita gente no DEM a quem ele já ofendeu, o pedetista pediu: "Falei ao (presidente nacional do DEM) ACM Neto: faça uma lista de quem você acha que eu preciso ligar, que eu ligo, sem problemas", afirmou Ciro.

 

Ciro não vendeu a mesma mercadoria de Alckmin porque o comprador não quis levar.