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A posição da chapa Cid-Eunício no Senado
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A posição da chapa Cid-Eunício no Senado

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Algumas distorções do sistema político são perceptíveis a partir do nascimento. Camilo Santana (PT) trabalha para eleger a chapa Cid Gomes (PDT)-Eunício Oliveira (MDB). Certamente, um caminhão de eleitores seguirá essa orientação. Do ponto de vista da formação de um Senado, o que significa esse voto? Alguém imagina Cid e Eunício com posições semelhantes no Congresso Nacional? Com afinidade de discursos e posições?

 

É um problema mais grave do que pode parecer. A razão de existir do parlamento é expressar a vontade do eleitor. Como a mesma vontade, do mesmíssimo eleitor, pode ser representada por Eunício e Cid?

 

A distorção começa porque as alianças são feitas olhando para os interesses dos estados. Então, Camilo montou essa chapa porque Cid foi o seu padrinho político, fez dele governador, e porque Eunício virou presidente do Senado e ajudou a viabilizar recursos para o Ceará. A questão termina aí.

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Porém, em Brasília, eles irão votar mudanças na Constituição, redução da maioridade penal, reforma política, indicação de ministro do Supremo Tribunal Federal (STF), investigação de presidente da República. São assuntos muito mais profundos que aspectos paroquiais, da política dos estados.

 

Quando a vontade do eleitor é representada de forma distorcida no Legislativo eleito, é o próprio poder que, pouco a pouco, vai minando sua razão de existir.

Quando a gente olha para o monstrengo que foi a formação das alianças proporcionais, a situação só piora. Comento sobre isso amanhã.


O que o vice revela sobre Bolsonaro

É estarrecedor que o candidato a vice-presidente da chapa que lidera as pesquisas de intenção de voto tenha dito o que afirmou o general Antonio Hamilton Mourão (PRTB). "Temos uma certa herança da indolência, que vem da cultura indígena. Eu sou indígena. Meu pai é amazonense. E a malandragem, Edson Rosa (vereador que estava na mesa, negro), nada contra, mas a malandragem é oriunda do africano. Então, esse é o nosso cadinho cultural".

 

O discurso é racista, é estereotipado, é raso. Mas, não é só isso. Não é apenas contra o negro e contra o índio. O que ele ataca é a própria ideia de miscigenação, a formação básica do brasileiro. E, para além de um discurso violentos contra negros, índios, mestiços em geral, o general ataca o brasileiro como regra. Critica os eleitores de quem pretende ter o voto. E, sabe o que mais? Ele não perde votos com isso.

 

Porque muito brasileiro escuta isso e pensa: o brasileiro é malandro e indolente mesmo. Não, o sujeito que pensa assim não se inclui. Como o cara que quer ir morar em Miami ou Portugal e lê sobre imigrantes e se acha europeu ou americano. Não percebe que é um dos imigrantes, visto por eles dessa forma.

 

Para além disso, o discurso é revelador da natureza da abordagem de Jair Bolsonaro (PSL) para os problemas do Brasil. Vai além das políticas públicas. Ele fala de aspectos comportamentais, de características que enxerga na índole do brasileiro. Dimensões atávicas da personalidade. É nessa dimensão moral e comportamental que o candidato pretende atuar. Afora liberar o uso de armas, tudo que Bolsonaro representa está mais na dimensão da vida privada que da esfera pública.

 

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