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O tamanho da perda de Ciro Gomes
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O tamanho da perda de Ciro Gomes

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Ciro Gomes (PDT) realizou a convenção que oficializou sua candidatura justo no momento mais crítico de sua pré-campanha. Frustrações e euforias têm relação direta com expectativas criadas. Dois meses atrás, a hipótese de aliança entre ele e o Centrão praticamente não era cogitada. Porém, as conversas avançaram e o acerto chegou a parecer bem próximo. O Palácio do Planalto interveio. O bloco DEM, PP, PRB e SD quis fazer uma graça: apoiar candidato de oposição, mas manter os cargos do governo. O recado veio claro e direto. Nem precisam apoiar Henrique Meirelles (MDB). Mas, Ciro não. Isso foi decisivo. A aliança, que parecia encaminhada, inviabilizou-se. Ao perder o que era improvável e se tornou factível, a candidatura do PDT passa sinal de enfraquecimento.

Outra alternativa é a preferida de Ciro: o PSB. É possível ainda, mas os obstáculos cresceram. Já pareceu mais próxima. Caso não saia, será um baque e tanto para o pedetista.

O impacto é, sobretudo, simbólico. Sem nenhuma aliança, Ciro tem muito mais estrutura, apoios e tempo de rádio e televisão que os competidores à sua frente — Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede). Do ponto de vista da estrutura para competir com ambos, ele não está em desvantagem. Está atrás, sim, em intenções de votos. Aí reside um de seus dois problemas.

Olhando para cima, tem distância a tirar de Bolsonaro e Marina. Está em desvantagem em relação a ambos. Se atrai o centrão, ele estaria muito, muito à frente dos dois no quesito estrutura e apoios. Teria mais condições de subir. Sem o centrão, o potencial de crescimento ainda é grande, mas fica menor. Se o PSB não vier, míngua ainda mais.

Olhando para baixo, vê Geraldo Alckmin (PSDB). Aí talvez esteja o maior inconveniente para Ciro. O apoio do centrão é o primeiro fato a animar a combalida candidatura tucana. Ele vem estagnado e agora recebeu apoio de partidos enroladíssimos em denúncias, em toma lá, dá cá de cargos. Não é propriamente uma injeção de ânimo, capaz de arrebatar multidões. Entretanto, confere ao tucano tempo de propaganda eleitoral incomparavelmente superior ao de qualquer outro.
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Nos quesitos apoios, estrutura, financiadores, o tucano tem léguas de dianteira. É improvável que tudo isso não se reverta em um bocadinho que seja de votos a mais. Nas últimas pesquisas, Alckmin alcança 6%, 7%. Patético para quem disputou 2º turno de eleição presidencial e governou o maior estado do País por 12 anos e quatro meses — recorde em todos os tempos.

Mesmo assim, Ciro dizia há pouco mais de um mês: “Alckmin tá lá embaixo, passando o pão que o diabo amassou, não decola, mas fatalmente crescerá”.

A aposta do pedetista, na época, era de que ele iria ao segundo turno contra Alckmin. Acreditava que o tucano cresceria e ele, Ciro, também. No mercado político das últimas 48 horas, a subida de Alckmin está mais bem cotada que a de Ciro.

O QUE A AÇÃO DO GOVERNO REVELA

A postura do Palácio do Planalto ao agir para esvaziar potenciais apoios à candidatura de Ciro revela algumas coisas:

1) Ciro preocupa o governo. É tratado como adversário direto, não à toa. Ninguém tem criticado tanto, há tanto tempo e de forma tão dura o hoje MDB. Foi dos primeiros a atacar Eduardo Cunha, quando ainda era estrela do baixo clero e o PT ainda estava abraçado aos peemedebistas. O pedetista talvez seja visto como alternativa mais viável do bloco que foi contra o impeachment. Por isso, seria, dos potenciais favoritos, o mais indigesto presidente para a atual base do governo Michel Temer (MDB).

2) Os partidos não abrem mão das últimas migalhas. A ameaça de que são alvo é a perda de cargos de um governo que acaba dentro de cinco meses. Parece pouca coisa, mas essa turma não parece disposta a prescindir de um dia sequer no poder. É pouco tempo, com restrições para uso do orçamento durante as eleições. Mesmo assim, não largam por nada.

3) Alckmin é alternativa governista. Na virada do ano, o PSDB deixou o governo Temer estremecido. Houve estranhamento. Mas, a afinidade é completa. Meirelles é o candidato oficial, mas o tucano parece ser o nome em que o Planalto aposta de fato. O MDB esteve, de um jeito ou de outro, em todos os governos desde a redemocratização. Faz de tudo para assegurar uma vaguinha no próximo. De um jeito ou de outro.

 

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