Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Quantos Ciro Gomes cabem dentro de um Ciro Gomes? A pergunta precisa ficar sendo feita o tempo todo na campanha que se desenvolve atualmente, tal é a quantidade de idas e vindas no discurso pouco linear do candidato do PDT à presidência da República. Ora ele aparece dizendo que só há chance de “Lula livre” com ele eleito presidente, parecendo um aliado; ora acusa Lula de estar por trás dos movimentos erráticos e mal-intencionados de Valdemar da Costa Neto, controverso comandante do controverso PR, em postura de adversário; enfim, a impressão que fica é a de que existe um Ciro para cada plateia, ou situação, ou conveniência. É possível que tudo isso seja estratégico, sabe lá Deus com quais perspectivas, mas o que parece é que a coisa sai da cabeça dele, sem que ninguém do seu entorno consiga demovê-lo. [FOTO1]
Há um certo espanto do olhar nacional sobre o estilo Ciro, com o qual já nos obrigamos a acostumar. Os pensamentos dele são cíclicos mesmo, dificultando muito a tentativa de compreender suas ações a partir apenas das palavras, algumas cirurgicamente utilizadas, reconhecendo-se a capacidade argumentativa como ainda a qualidade mais destacável nele. É um problema, porém, que o tempo todo precise esclarecer melhor algo que afirmou, que sinta necessidade de fazer algum tipo de recuo em posicionamento que assumiu, que se sinta obrigado a falar um pouco mais sobre algo que já disse. Por exemplo, o pedetista já poderia ter percebido que não funcionará sua tentativa de atacar o PT sem parecer que está atacando Lula, mais de olho no eleitor deste do que na preservação real de sua imagem.
A ALIANÇA COM O PROS E AS DÚVIDAS
Um paradoxo da crise colossal do tempo presente que ameaça o PT e seu futuro é o fato de se encontrar nela, também, a chance importante de uma espécie de recomeço. Desde que seja aproveitada de maneira conveniente, algo que a aproximação recente com o Pros, convenhamos, não ajuda em nada. O que se pergunta, inicialmente, é se a aliança teria poder, de fato, para agregar valor político ao projeto petista para 2018. Não, não parece.
Esqueçamos o tamanho do Pros, a quantidade de parlamentares que tem sua bancada, o tempo de TV e rádio que pode proporcionar, focando no principal, que seria a capacidade real que apresenta de dar qualidade a uma aliança.
É sintomático que se trate, no Ceará, da sigla sob comando do Capitão Wagner, um crítico aberto do PT. Para entornar mais o caldo e cravar com mais força o tamanho da incoerência, trata-se de um entusiasta da candidatura de Jair Bolsonaro (PSL), em outra indicação de que a conversa que se dá no âmbito das cúpulas nacionais não guarda qualquer compromisso com objetivos políticos que busquem um momento novo para um partido que tenta sair de uma crise muito resultante de uma visão em que o projeto eleitoral justificaria qualquer ação. Inclusive aquelas que já pareciam erradas no nascedouro. A conversa com Pros tem força para desanimar gente que até renovara o entusiasmo com o PT após captar alguns sinais parcos de que a lição parecia ter sido aprendida, após quatro vitórias e muitos acordos espúrios pelo caminho. A conversa de Gleisi Hoffman com Eurípedes Junior representa um golpe duro nos que acreditavam que algo novo poderia acontecer neste 2018 de tanta dor. Para eles.
A INEXPLICÁVEL DEMORA DO PSDB
Já era para o PSDB ter resolvido o impasse que envolve a escolha do segundo nome para disputa ao Senado na chapa majoritária. Lúcio Alcântara está fora, resistindo às investidas mais recentes da cúpula tucana, comandada pelo presidente Francini Guedes, prevalecendo os apelos domésticos e a intenção própria de se aposentar da política. Restaram os nomes da médica Maira Pinheiro e de Luiz Pontes, que estão submetidos a uma pesquisa de intenção de votos, contratada pelo próprio partido, através da qual deve ser definido o nome que fará companhia ao empresário Luiz Eduardo Girão, já indicado pelo Pros para ocupar a outra vaga. Os números seriam apresentados terça-feira, houve uma transferência para ontem na decisão e, à noite, após algumas horas de discussão, ficou acertada mais uma rodada de conversas para hoje.
É difícil compreender a lentidão do PSDB. Tudo bem que do outro lado também não há pressa e ainda persistam dúvidas sobre os nomes que estarão ao lado de Camilo Santana no palanque, como candidatos às duas vagas em disputa para o Senado Federal. Como diferença, quem quer que seja precisará de menos tempo para se fazer conhecido, aliás, não precisará de nenhum, em tese, porque o elenco de opções surgidas ou especuladas está formado, todo, por políticos já conhecidos. A saber, Eunício Oliveira (MDB), Cid Gomes (PDT), André Figueiredo (PDT), José Pimentel (PT) e Luiziane Lins (PT). Para o bem ou para o mal, todos apresentando a vantagem de entrarem na campanha com um nível de conhecimento pelo eleitor que pode fazer a diferença diante de um tempo de campanha curto como nenhuma outra teve, até hoje, na nossa história política.
GUÁLTER GEORGE
JORNALISTA
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GUALTERGEORGE@POVO.COM.BR
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