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A presença das facções nas eleições
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A presença das facções nas eleições

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A onda de atentados criminosos em Fortaleza, simultânea a várias convenções partidárias, alerta para uma das questões mais preocupantes destas eleições: a presença das facções no processo político. No mundo todo, o crime organizado atua em frentes diversas. Têm braços econômicos, dentro da Polícia, no aparelho de Justiça - e esse último ponto tem sido desvendado no Ceará. Não haveriam de ficar fora da política, obviamente. As facções criminosas em atuação no Estado são um risco nessa eleição, não apenas pela violência que ameaçam espalhar. Os grupos estão enraizados nas comunidades. Possuem capacidade de influenciar o voto de grandes contingentes da população. Um dos maiores riscos das eleições que se avizinham é das facções criminosas emplacarem sua própria bancada parlamentar. Feito isso, estará dado passo para elas se firmarem em definitivo como atores no jogo de forças da sociedade cearense.

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O espaço parlamentar do crime organizado

Grupos criminosas lançarem candidato não é a novidade. O Rio de Janeiro conhece essa realidade já há tempos. As milícias em particular. Em 2016, escutas telefônicas apontaram que haveria facção financiando centenas de candidatos pelo Brasil. Nos últimos anos, houve vários casos, no Ceará inclusive, de vereadores presos acusados de envolvimento com tráfico de drogas.

 

A diferença é a forma como as facções estão presentes e exercem influência em territórios de Fortaleza e pelo Ceará. O potencial eleitoral se multiplicou.

 

E, se eleitos, serão parlamentares que provavelmente estarão nas bases de apoio dos governos. Eventualmente, serão daqueles discretos, dos quais pouco se ouve falar. Mas, colocarão suas reivindicações na mesa do Poder Executivo.

 

Não sei se as facções serão determinantes para escolher o próximo governador. Não tenho elementos para afirmar que poderão influenciar uma eleição majoritária. Elas podem, é claro, desgastar quem está no cargo, por meio de sua ação. Mas, o alcance disso é incerto.

 

Mais provável e não menos perigoso é que usem a presença em comunidades para direcionar o voto para candidatos ligados a elas. E, fazendo isso, podem transformar os mandatos em maneiras de influenciar as ações dos governos.

 

As facções são hoje um problema grande. Mas, podem se tornar maiores, mais fortes. Podem adquirir outra natureza, potencialmente ainda mais perigosa. É questão à qual Ministério Público e Polícia Federal precisam estar de olho.

 

Camilo com o PT. E Ciro?

Durante o encontro do último sábado, o PT aprovou resolução para obrigar Camilo Santana a apoiar o presidente Luiz Inácio Lula da Silva ou qualquer outro candidato a presidente que o partido vier a lançar. No momento em que o texto foi aprovado, o governador já havia ido embora. Antes, havia dito: "Em qualquer circunstância eu estarei ao lado do presidente Luiz Inácio Lula da Silva". Ao sair, disse que acataria o que a direção decidisse.

 

Alguns pontos a serem considerados:

 

1) Há duas semanas, Camilo disse que não acredita que a Justiça permitirá que Lula seja candidato. Então, ele se compromete a apoiar alguém que ele não acredita que irá concorrer.

 

2) Meses atrás, Camilo não era tão firme quanto ao apoio a Lula. Àquela altura, não estava tão evidente que a candidatura do ex-presidente estava inviabilizada. Quanto mais improvável se torna, mais enfático é o apoio do governador a Lula.

 

3) Sobre a resolução que pretende forçar Camilo a apoiar quem o PT indicar, é duvidosa a eficácia. Não sei se será mais forte que o laço do governador com Ciro Gomes. O mais provável é que Camilo não mergulhe de cabeça na campanha petista. Porém, ele tem restrições para apoiar candidato que não o do seu partido. Não pode entrar no horário eleitoral, por exemplo. Em 2016, ele fez isso em relação a Luizianne Lins, quando queria apoiar Roberto Cláudio (PDT) para a Prefeitura. A diferença é que, naquela época, Camilo não era candidato. Agora, é mais difícil ignorar a campanha, fazendo parte dela.

 

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