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A articulação política do comandante
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

A articulação política do comandante

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O comandante do Exército, general Eduardo Villas Bôas, comporta-se como articulador político e lobista. Torna-se poderosa personagem nesta pré-campanha. Ele tem recebido em caravana os potenciais candidatos a presidente. A intenção é apresentar a eles propostas - sobretudo na área da segurança pública.

Villas Bôas recebeu ontem Geraldo Alckmin (PSDB). Antes, esteve com Jair Bolsonaro (PSL) e Marina Silva (Rede). Amanhã, segundo a Folha de S.Paulo, ele deve se encontrar com Fernando Haddad (PT), representando o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

Os absurdos se somam. As Forças Armadas têm o presidente da República como comandante-em-chefe. Ao apresentarem uma plataforma de governo, há de se imaginar que a relação com o superior sofrerá influência da maior ou menor adesão a tais ideias. Aliás, a considerar o histórico de uma força que já depôs governantes em mais de uma oportunidade, algum candidato teria peito para entrar em campanha dizendo não a ele?

Não para aí: o general é subordinado ao presidente da República e pertence a um governo que tem seu candidato. Quão conveniente é que comece uma articulação política paralela ao governo ao qual pertence?
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Na história política brasileira, as Forças Armadas já se envolveram demais com política muito mais do que é aceitável numa democracia saudável. Não é natural o comandante do Exército fazer lobby e apresentar pauta de reivindicações a quem pleiteia ser o futuro superior. Não é uma entidade como qualquer outra que apresenta seu pensamento aos candidatos, em busca de adesão. É raro caso de instituição com força coercitiva sobre o chefe do Poder Executivo. Isso é muito perigoso.

O envolvimento do general com política eleitoral ocorre em momento no qual surgem apelos tresloucados por um golpe de Estado - no século XX, foram pelo menos dois, além de dois golpes dentro dos golpes, e outras tantas tentativas. Nunca foram a solução que se esperava e se prometia. O protagonismo que os militares voltam a buscar na política é incompatível com sua missão, é uma distorção inaceitável em democracias sólidas e é assustador sobre onde pode descambar no longo prazo.

A ARRISCADA SUPEREXPOSIÇÃO

Ciro Gomes (PDT) corre grande risco. É atualmente o candidato a presidente que mais aparece e mais se expõe. Isso tem, obviamente, lado muito bom para ele. Mas, deixa embutido grande risco. Quanto mais se fala, mais risco se corre de falar algo que parcelas dos eleitorados receberão bem. Quanto mais comedido e pouco afeito for a declarações polêmicas, menos o candidato se arrisca. Portanto, o perigo para Ciro é enorme.

O RISCO DO DISCURSO FÁCIL

Ontem, Ciro afirmou que, se for presidente, levará o preço do litro de gasolina a algo em torno de R$ 2,80 a R$ 3. Atualmente, em Fortaleza, é de cerca de R$ 4,67. Poucas coisas ditas até agora nesta campanha tem tanta cara de discurso fácil, simplista, isca de quem acha que eleitor é trouxa. Não é assim que funciona o mercado de combustíveis, não é possível dar tal garantia no modelo de produção que vem de muito tempo. Só seria viável assegurar tais preços se grande parte do orçamento público fosse destinado a financiar o combustível de veículos privados. Não é o caso.

Também não sei se o eleitor se deixa guiar por aceno tão rasteiro: “Vou votar em candidato X porque, com ele, abastecerei meu carro por tal valor”. Seja como for, pelo menos já se tem promessa clara e objetiva para ser cobrada de Ciro no caso de ele ser eleito.

O ex-governador cearense tem falado cada vez mais e se envolvido em polêmicas. A menos de dois meses do início da campanha, ele está no grupo de três ou quatro candidatos mais viáveis. Já frequentou esse seleto clube em outras ocasiões e se deu mal pelos próprios erros.

Foto do Érico Firmo

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