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O sinal do que pode ser uma boa notícia
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O sinal do que pode ser uma boa notícia

Tipo Opinião
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A redução do índice de homicídios é a primeira boa notícia na segurança pública em muito, muito tempo. Discreta e isolada, mas ainda boa notícia. A queda é de 2,6% no índice de assassinatos. Quase nada diante do descalabro que vivemos. O referencial de comparação é abril de 2017, mês de indicadores horripilantes. Porém, a melhora precisava começar de algum lugar. E finalmente ela veio. Foram 13 meses seguidos de aumento nos homicídios do Estado. Ainda que seja pequena, a melhora é boa notícia. Traz a esperança de que possa ser o início de um processo. Fortaleza, que puxou a alta dos homicídios, tem queda já pelo segundo mês. E até expressiva, de 14,9%. A questão é: vai continuar?

A resposta é: provavelmente. Em abril, o Ceará teve 368 assassinatos. Média superior a 12 por dia. Lembra da chacina do Curió e São Miguel? Até janeiro deste ano, era a maior da história do Ceará. Pois, estatisticamente, é como se tivesse havido uma chacina como aquela todo dia durante o último mês, e ainda mais uma morte. É terrível.

Mas, a comparação é feita em relação ao mesmo período do ano anterior. E o ano passado é o referencial mais sombrio possível. Em maio de 2017, foram 471 homicídios. Em junho, 474. Julho, 475. Agosto, 460. Setembro, 461. Outubro, 516 - quanto se atingiu o pior resultado da história. Então, a chance de haver um ciclo de queda pelos próximos meses é muito grande. Abril passou longe de ser algo que se possa considerar positivo. Todavia, para haver aumento de homicídios em relação ao ano passado, a quantidade de crimes precisará crescer muito em relação ao que existe hoje.

Com tudo isso, a notícia, depois de mais de um ano, da redução de homicídios é alentadora. Sozinha, significa pouco. Todavia, traz a expectativa de que inicie ciclo de melhoria. Não será fácil nem rápido. Mas, se sustentada ao longo de um ou dois anos, quem sabe devolverá o Ceará a patamar civilizado em relação à violência. No longo prazo.

A possibilidade é concreta, mas ainda é só possibilidade. Por ora, é fato isolado. Ainda assim, teria de haver um primeiro mês da sequência que se espera longa. Que seja este.

O IMPACTO POLÍTICO

Redução de homicídios é importante porque significa menos vidas perdidas e ponto. Porém, é inegável que o resultado, se persistir, pode ser alívio e tanto para o governador Camilo Santana (PT). Conforme apontei, a perspectiva de haver novas melhoras (afinal de contas, o referencial de comparação é extremamente negativo) é bastante provável ao menos até outubro. É justamente o mês da eleição, na qual o governador tem na segurança pública o calcanhar de Aquiles.

Não que a melhora dos indicadores - e esta é da casa dos 2% - vá resolver o problema político da segurança. Atenua. Porém, já houve sequência de quase dois anos inteiros, de 2015 a 2016, de redução da criminalidade nas estatísticas. E o medo é mecanismo que atua de forma sorrateira no psicológico. Enraiza-se e se torna difícil de remover. Um episódio - e têm sido muitos e dramáticos - é o bastante para deixar as pessoas assustadas.

Para além dos homicídios, assaltos, furtos deixam as pessoas fragilizadas, afetam emocionalmente. Não é algo simples de contornar. Uma vez que a pessoa adquire o medo de andar na rua, de estar no carro — às vezes até de estar em casa, pois por vezes não há limite aonde o crime não chegue — é difícil recuperar. Não é o tipo de coisa que seis meses de queda de índices de criminalidade repare. Nem uma vida inteira, em alguns casos.

O medo envolve questões emocionais complexas como poucas outras. Por isso é tão poderoso e perigoso quando se torna fator e ferramenta da política.

A CONFIABILIDADE DOS NÚMEROS

Quando ocorre redução do número de homicídios, sempre há quem desconfie dos indicadores. Há menos de cinco anos, o Ceará não tinha mesmo estatísticas públicas confiáveis. Hoje podem estar errado? Podem. Podem ser manipulados? Nunca descarto. Porém, não dá para negar que o Estado tem um dos mais sólidos bancos de estatísticas nessa área. Muito mais que, por exemplo, São Paulo. O fato de virmos de 13 meses seguidos de alta atesta a favor da confiabilidade.

RECARGA

Antes da maratona que se avizinha com Copa e eleição, tirarei uns dias de descanso no meio do mato. Volto em junho. Até lá, o jornalista Henrique Araújo vai pastorar por aqui.

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