Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
O início das operações do hub Air France/KLM/Gol é provavelmente o mais importante investimento da história do Ceará. O impacto tende a ser ainda maior que o da siderúrgica do Pecém. E também do que seria o da refinaria que nunca saiu. É mais adequado à vocação da Capital. No lugar da aposta em indústria pesada, trata-se de incremento no setor de serviços. Coloca o Ceará como ponto de encontro entre Europa e América do Sul. Para além da atividade econômica, possibilita a inserção do Estado numa rede mundial de conexões. Ponto de passagem entre metrópoles globais. O Ceará sempre teve posição estratégica, mas a geografia por si só não garante a relevância, se não forem garantidas as condições para transformar o potencial em proveito. O hub pode, afinal, transformar Fortaleza em cidade estratégica.
Isso significa muito mais de economia. Gente de toda parte do mundo passará por aqui. Um fluxo de culturas, experiências, conhecimentos, costumes. E dinheiro também. Pode ser uma oportunidade como Fortaleza nunca teve. Mas, também pode ser um problemão.
RETAGUARDA NECESSÁRIA
Fortaleza tem localização estratégica para a economia e o comércio — todo tipo de comércio. Não é coincidência que a guerra entre facções criminosas por territórios tenha sido desencadeada justamente quando o hub está para ser inaugurado. O ministro da Justiça, Torquato Jardim, deu a senha quando afirmou: “Quem conquistar o Ceará conquista o Nordeste”. O Ceará não é grande produtor de drogas e armas, nem é mercado consumidor que justifique tamanha disputa. Sua relevância é o fato de ser ponto de passagem.
Passam e passarão muito mais pessoas, dinheiro, comércio - legal e ilegal. Desde fevereiro questiono (você pode ler neste link: bit.ly/hubfaccoes): houve correspondente aumento da segurança pública, da Receita Federal, do controle alfandegário? Isso é, claro, problema do Ceará. Mas, é também do Governo Federal. A questão passa a ter interesse internacional.
Para além da comemoração, o hub traz demandas, responsabilidades e desafios. O que é ótima notícia pode virar problema se não houver precauções e cuidados. Não terá sido o primeiro caso.
O DESAFIO URBANO DE UM HUB ENCRAVADO ENTRE FAVELAS
Do ponto de vista da movimentação econômica, não tenho dúvida do ganho que traz o hub. A questão é se Fortaleza ganhará, como conjunto, ou se será outro benefício localizado.
O hub, como de resto o aeroporto, está encravado entre favelas e áreas de risco. No mapa abaixo, publicado pelo Instituto de Planejamento de Fortaleza (Iplanfor), mostra assentamentos precários naquele entorno nos quais é identificada necessidade de intervenção.
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Em verde, áreas que demandam urbanização simples, em amarelo, zonas que demandam urbanização complexa. Em azul, regularização de posse. Em vermelho, é identificada necessidade de reassentamento.
A forma como o hub irá se relacionar com aquele território é uma das maiores incógnitas para responder a como Fortaleza irá se relacionar com o empreendimento. É oportunidade talvez única para incluir esses territórios, gerar emprego, levar qualificação.
Mas — triste história das cidades —, é bem capaz de ser mais um mecanismo de exclusão ou gentrificação - “qualificar” a área de modo a valorizar os terrenos e, assim, colocar para fora os pobres.
O hub pode ser ótimo, mas traz grande impacto para o território. Fluxo intenso de cargas, movimentação contínua de veículos pesados. Do ponto de .
vista urbano, o entorno estendido do aeroporto pode não se tornar área aprazível, por onde circulam por cafés e bistrôs turistas europeus à espera de suas conexões. O local pode se assemelhar mais a áreas portuárias e aeroportuárias fortemente degradada, perigosa e insalubre. Já é um pouco isso e pode ficar bem pior.
O hub é uma oportunidade como Fortaleza nunca antes teve, e traz desafios igualmente grandes. A experiência de outros lugares e o passado da própria Capital ensinam dos perigos envolvidos. Mais que o impacto do investimento, está em jogo o que faremos desta Cidade.
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