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O crime atribuído a Lula e além
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O crime atribuído a Lula e além

Tipo Opinião
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Estão em andamento os procedimentos relacionados à denúncia contra o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) relativas ao sítio em Atibaia. Sempre achei o caso muito mais consistente que o do triplex. Por isso, acho muito provável que ele venha a ser condenado por mais esse caso. O ex-presidente cumpre pena de 12 anos e um mês. Salvo decisão do Superior Tribunal de Justiça (STJ) ou do Supremo Tribunal Federal (STF), ele terá direito a regime semiaberto após um sexto da pena cumprida. A possível nova condenação ameaçará a progressão de regime. É possível que o ex-presidente fique muito tempo preso. Há outros vários processos na fila.

Por tudo que li sobre o processo do triplex, não encontrei elementos que demonstrem de forma clara que o imóvel pertence a Lula. Não quero dizer com isso que entendo mais do caso do que o Sergio Moro, que o Tribunal Regional Federal da 4ª Região (TRF-4). Digo apenas que não me convenci da culpa. Ficou claro, e a defesa de Lula admitiu, que havia interesse no imóvel. Foram adquiridas cotas da Cooperativa Habitacional dos Bancários (Bancoop). Houve visitas da ex-primeira-dama Marisa Letícia ao local. Lula esteve lá uma vez. Depois que a polêmica estourou, a família desistiu do negócio.

Nos bastidores, especula-se que o Ministério Público Federal monitorava os movimentos. Aguardava o casal efetivamente tomar posse do apartamento para aí entrar com a denúncia. Seria fatal. Mas, então, membros do Ministério Público Estadual de São Paulo teriam se precipitado, jogado a história no mundo e atrapalhado a estratégia. É possível. E talvez o desfecho fosse aquele. O fato é que não aconteceu. Mesmo assim, Lula foi condenado e preso. Por isso, dificilmente poderá ser candidato.

O caso do sítio tem algumas diferenças fundamentais. Está no nome de um amigo de Lula de décadas — Fernando Bittar. E recebeu reforma milionária realizada por empreiteiras que tinham negócios com o governo. O ex-presidente efetivamente desfrutou, intensamente, do local. Gilberto Carvalho, que foi chefe de gabinete e o mais próximo auxiliar nos dois mandatos do presidente, disse ontem a Moro que Bittar emprestou o sítio à família de Lula. Segundo Carvalho, o dono do sítio ofereceu o espaço para que eles usassem como quisessem. E estava disposto a vender o espaço ao casal.

O que está em julgamento é muito parecido ao que houve em relação ao triplex: Lula é acusado de ser dono oculto do imóvel. De ter usufruído de benfeitorias no local realizadas por empreiteiras, como favores em troca de benefícios no governo. De esconder a real propriedade do lugar.

Não sei Lula era dono. Se for, não sei se isso será provado. De um jeito ou de outro, tampouco sei se Lula será condenado, embora ache provável.

O que sei que está provado, admitido, é que Lula desfrutou de um lugar que recebeu melhorias realizadas por empreiteiras que tinham contratos e interesses no governo. Aliás, que foram intensamente beneficiadas no governo Lula pela política de vender o setor privado nacional no Exterior.

E aí, seja ele o dono ou não, está errado. Não é isso do que Lula é acusado. Mas, não é correto. O ex-presidente criou relação com o setor empresarial que, no mínimo, flertou com a promiscuidade. Está longe de ser o único. É quase regra na política. Mas, o fato é que ele entrou com desenvoltura nesse jogo.

O ENCANTO QUE RONDA O PODER

Nem sei se Lula via algo errado nisso. Se achava que era corrupção. Alguém que teve tanto poder — dois mandatos presidenciais e emplacou aliada em outros dois — conseguiria coisa melhor que um sítio no interior e um apartamento no litoral paulista se quisesse lavar a burra. Muitas vezes, políticos se encantam tanto com a paparicação que passam a achar natural, coisa de amigos, que passam a achar muito natural que as relações se deem dessa forma.

Mas, conscientemente ou não de que aquilo é benefício indevido pela função que ocupa, o fato é que Lula desfrutou de favores em função do cargo que ocupou e da influência que tinha. Esse tipo proximidade com empresários com altos interesses no governo — e essa qualidade de empresário que se revelaram os donos de Odebrecht, JBS e tantos outros — foi um erro moral do ex-presidente sobre o qual as evidências abundam.

Foto do Érico Firmo

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