Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Na coluna de terça-feira, ao comentar a pesquisa Datafolha, prometi falar no dia seguinte da ascensão do centro no cenário sem Luiz Inácio Lula da Silva (leia nesta link: bit.ly/luladata).
Fiz a ressalva de que assim seria se a dinâmica da política permitisse. Pois bem, no dia seguinte, Aécio Neves (PSDB) virou réu no Supremo Tribunal Federal (STF) e o assunto se impôs (leia neste link: bit.ly/aecioreu). Mas, como havia prometido, volto ao assunto.
A pesquisa do último fim de semana é reveladora em muitos aspectos:
1) Não há político cuja força se equipare à de Lula. Se não é indeferido, tem chance muito grande de virar presidente pela terceira vez.
2) Sem Lula, os demais candidatos de esquerda, somados, mal passam de 10% de suas intenções de voto. Juntos, não dão um Ciro Gomes (PDT).
3) Os candidatos mais à direita têm apenas oscilações dentro da margem de erro na comparação com as simulações nas quais os petistas estão presentes. Jair Bolsonaro (PSL) fica em primeiro e vê muita gente que está atrás ameaçá-lo. Marina Silva (Rede) empata tecnicamente com ele em todos os cenários sem Lula.
4) Daí eu dizer: quem sobe é o centro.
FORÇAS EM ASCENSÃO
Além de Bolsonaro, dois candidatos chegam aos dois dígitos em algum cenário: Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB). Marina disputa a liderança. Barbosa tem desempenho médio superior ao de Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB). Verdade que a diferença é pequena, na margem de erro. Mas que esteja em igualdade de condições com candidatos a presidente de outros carnavais já é surpreendente.
Marina tem origem à esquerda mas caminhou para o centro. Moderou tanto seu discurso que não consegue se posicionar com clareza e objetividade em muitas dos debates políticos atuais. Aliás, as aparições bissextas têm sido sua marca.
Quanto a Barbosa, ele é o nome talvez mais à feição do que marqueteiros projetam como perfil de candidato para o atual momento. Ele foi o Sergio Moro do mensalão. Tem essa cara de novidade na política que tanto se reivindica. Por mais que o racismo atrapalhe, o fato de ser negro dialoga com a evolução do debate sobre representatividade.
A presença de Barbosa atrapalha bastante as candidaturas de Ciro, à centro-esquerda, e de Alckmin, à centro-direita.
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O ESPAÇO DA DISPUTA
Essa batalha de centro caminha para ser uma das tônicas da eleição. Por um lado, tentarão atrair o eleitor órfão de Lula. Do outro, brigarão para ver quem fica mais radicalmente no meio.
Nas extremidades, a esquerda não tem nomes competitivos. Quanto a Bolsonaro, sem Lula ele tem duplo problema. Como ele se notabilizou como mais rugoso dos adversários do PT, quase não ganha votos. Se o dono do maior patrimônio eleitoral fica fora, ele não se beneficia quase nada do espólio.
Para completar, ele fica sem competição. Sem o inimigo fabricado, sem contraponto, sem ter contra quem vociferar, ele não tem o que fazer. Bolsonaro sem a esquerda não é nada.
Com esse esvaziamento à direita e à esquerda, fica o centro.
O QUE ISSO DIZ SOBRE O BRASIL
O quadro é muito revelador sobre o Brasil. A história do País é marcada pelo conflito e pela tentativa de pactuação, por passar por cima das rupturas e construir pactos, artificiais que sejam. A nação mais tardiamente escravocrata do Ocidente finge não haver racismo. Cultura atavicamente patriarcal tenta ignorar o machismo. Fala-se que nossa independência foi pacífica, mas houve mais de um ano de guerras bastante sangrentas - inclusive no Piauí, com participação de tropas cearenses. Nas décadas seguintes, houve guerras civis de norte a sul - o Ceará se envolveu em uma das primeiras, a Confederação do Equador. Foi só em 1850 que a independência se consolidou. Mesmo assim, há o mito do povo pacífico.
Esse tendência, em momento de polarização, de caminhar para a mediação é muito brasileira. Por vezes, essa conciliação foi positiva. Em inúmeras outras, a negação do conflito e recusa por optar por um caminho foi nosso abismo.
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