O governo Michel Temer (MDB) atravessa processo de esvaziamento. O presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM), lançou-se candidato a presidente, enquanto seu ministro mais importante, Henrique Meirelles (PSD), tenta se viabilizar para concorrer ao mesmo cargo. Temer faz o que pode para ser candidato à reeleição, mas não sabe se tem condições para tal. Aliás, ele sabe que hoje não tem condição nenhuma. Espera é vir a ter. Porém, ou o governo aponta alguma perspectiva para a eleição, ou a base vai fazer água a cada dia.

O POVO Online fez ontem levantamento, realizado por Heloísa Vasconcelos, que mostra haver pelo menos 23 pré-candidatos a presidente. O número é emblemático. Na eleição presidencial de 1989, eram 22 os candidatos. Claro, nem todos os atuais pré-candidatos irão realmente para a disputa. Mas, pelo menos 17 dos listados estão praticamente confirmados. (Veja quem são eles neste link: bit.ly/candigov

Muitos pequenos partidos costumam ser loucos para apoiar candidatos governistas. Mesmo para perder. Depois eles se compõem com quem ganhar, pois presidente nenhum enjeita apoio. Até lá, favorecem-se da parceria com o governo de plantão.

Temer teria duas opções para não deixar sua base escorrer por entre os dedos. Uma alternativa seria ele se lançar candidato desde já. Anunciar que vai concorrer de qualquer jeito e defender seu legado. É impopular de modo como nunca se viu, mas sempre haveria os dispostos a desfrutar da companhia do poder.

A outra opção seria Temer estar bem posicionado que sua candidatura se tornasse óbvia sem que ele precisasse dizer. Ele adoraria que fosse assim, mas não é. Então, fica vai empurrando com a barriga uma definição. Não dá sinalização clara à sua base, não aponta perspectiva de seguir poder, de disputá-lo ao menos. E aí, os movimentos acontecem à revelia dele.

Inclusive de seu principal ministro e de seu talvez mais importante aliado.

O GOVERNISMO ENVERGONHADO

Rodrigo Maia foi lançado ontem pré-candidato a presidente pelo DEM e o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Marun (MDB-MS), afirmou que ele pode ter o apoio do governo. Mas, o próprio Maia disse, ontem mesmo, que não está disposto a ser o candidato que defenderá o legado de Temer.

O DEM tenta se dissociar da imagem do presidente. Uma desfaçatez. O partido não tem uma divergência real e visível a olho nu com o governo. Defendeu o processo que deu poder a Temer e todas suas políticas. Por que cargas d’água não quer defender o governo?

A resposta é: pragmatismo. Se Temer fosse popular, ou ao menos não fosse detestado, o DEM faria de tudo para ter o apoio dele. Como é impopular de forma nunca vista, o partido foge dele. Mesma coisa já fez o PSDB. Defende as mesmas ideias, em linhas gerais, que o governo. Vota quase sempre com o governo. Mas, não quer se atrelar ao governo.

 

ACM Neto, novo presidente do DEM, afirmou que Maia não será candidato nem de governo e nem de oposição. “Ele será candidato do Democratas, do ideário que nós estamos construindo, de um conjunto de ideias e propostas para o futuro do Brasil”.

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O ideário do DEM o brasileiro conhece de muito tempo, na prática. É, ao lado do MDB, aquele cujas raízes são mais facilmente identificáveis. O partido é o antigo Partido da Frente Liberal (PFL) com outro nome. O PFL, por sua vez, era uma dissidência do velho Partido Democrático Social (PDS), que assumiu papel de legenda da ditadura após a extinção da Aliança Renovadora Nacional (Arena). Nos últimos 30 anos, afora as administrações do PT, o PFL/DEM apoiou todos os governos. Seu ideário é bem conhecido.