Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
A ocorrência periódica de atentados em série tornou-se quase parte da rotina de Fortaleza. De tempos em tempos, há ataques a prédios públicos e incêndios a ônibus, alternados com chacinas. Triste hábito que a Cidade incorpora. Resultado de grupos cuja vitória é a propagação do medo. A violência não visa apenas atingir o alvo, mas ser vista pela coletividade. Aí o efeito se completa.
Infelizmente, não creio que a presença de facções criminosas seja problema de momento. Pela experiência de outros estados, não me parece que é algo que terá solução definitiva. Pelo menos não no horizonte dos próximos anos, e definitivamente não a partir do Ceará. Não é algo que será resolvido com mais ou menos tempo, a depender da competência dos responsáveis. As facções não são realidade que se instaurou, mas que serão debeladas cedo ou tarde. Pelo menos não tem sido essa a experiência.
Em quase quatro décadas, o Rio de Janeiro não erradicou o Comando Vermelho. Em duas décadas e meia, São Paulo não acabou com o Primeiro Comando da Capital. Não soa factível que o Ceará consiga acabar com elas. Não são surto de momento, tampouco epidemia. São mais como doença crônica. Algo que, uma vez instaurado, dificilmente é debelado. Situação com a qual se conviverá por muito tempo, e com a qual se precisará aprender a conviver e manter sob controle. Por convívio entenda-se a necessidade de permanente combate. Por manter sob controle, leia-se contínua vigilância. É terrível que seja assim, mas em estados maiores e mais ricos nem isso tem sido possível.
Será isso, a não ser que o Governo Federal realize esforço sério, coordenado com os estados e de longo prazo. Assim, quem sabe em alguns anos as facções sejam debeladas. Pelo menos, drasticamente fragilizadas.
PERGUNTINHA
Depois da chacina das Cajazeiras, o presidente Michel Temer (MDB) autorizou, em 30 de janeiro, o envio de força-tarefa da Polícia Federal ao Ceará. Nada foi feito e, em 18 de fevereiro, a promessa foi reafirmada, após assassinato de líderes nacionais do PCC que estavam em Aquiraz. No dia seguinte, os enviados chegaram ao Estado e tiveram as primeiras reuniões. Faz mais de mês.
Onde está a força-tarefa federal que daria apoio à segurança no Ceará? Cadê eles? O que fazem?
De lá para cá, já teve outra chacina, já houve sequência de atentados. E não se viu rastro desse pessoal.
Se trabalham na surdina, os resultados permitem perceber que o desempenho não é dos melhores.
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A MULHER QUE MUDOU O RUMO DO GOVERNO LULA
Sem a pesquisadora cearense Ana Fonseca, que morreu neste domingo, é provável que a história política do Brasil neste século fosse diferente. Ela participou da concepção e liderou a execução da unificação dos programas sociais do governo Luiz Inácio Lula da Silva (PT). Se o Bolsa Família tivesse de ter apenas uma mãe, seria ela. Sem nem falar da grandeza do impacto social do programa, vou abordar a repercussão política.
O Bolsa Família foi a ferramenta que teve maior papel para a força política de um governante neste século. Quando foi criado, o governo Lula apostava no Fome Zero como carroc-chefe das políticas sociais. Era mais um programa que se sobrepunha a várias outras ações pulverizadas e confusas. Ana articulou a unificação e coordenação de tudo que existia. A nova organização permitiu a ampliação a patamares nunca vistos.
O Bolsa Família assegurou a popularidade a Lula em momento no qual o governo era questionado a partir do próprio PT e dos sindicatos pela reforma da Previdência. Foi a política contra a pobreza que permitiu ao governo sobreviver ao primeiro grande escândalo, o “caso Waldomiro Diniz”, e, sobretudo, ao mensalão.
Personagem sem grande visibilidade, Ana Fonseca foi responsável por uma guinada no governo que permitiu a Lula se tornar o fenômeno de popularidade que viria a ser. Sem ela, a história política do Brasil neste século seria diferente.
Para além da política, a nota de pesar da Unicamp, onde Ana era coordenadora associada do Núcleo de Estudos de Políticas Públicas, dá dimensão de sua contribuição como pesquisadora e humanista: “Os textos científicos de Ana Fonseca se constituem em uma poesia de reflexão sobre as diferenças humanas em um mundo que está sempre em transformação”.
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