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O que dizer num momento de crise?
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O que dizer num momento de crise?

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Nas duas maiores crises da segurança do Ceará nos últimos anos, foi marcante a postura equivocada dos agentes públicos. Na greve da Polícia Militar de 2012, Cid Gomes (PDT) e todo seu staff cometeram erro capital: a omissão. Não é que não tenham feito nada. Houve muito trabalho de bastidor. Porém, o governante também tem papel público. Nessa arena, as autoridades silenciaram. Queriam aparecer já com a solução. Mas isso demorou e abriu-se vácuo no qual prosperou a boataria. Espalhou-se, inclusive, que Cid estaria no Exterior enquanto o Estado ruia. As informações ao público partiam quase exclusivamente dos grevistas. A postura equivocada do governo agravou o problema. Já no caso da chacina que hoje completa uma semana, o erro do silêncio o governo não cometeu. O secretário André Costa veio a público na mesma manhã. O governador Camilo Santana (PT) se posicionou no Facebook e, depois, na manhã seguinte. Mas ambos se saíram mal.

André Costa virou meme nas redes sociais ao falar que era isolada uma situação recorrente e ao dizer que o governo não perdeu o controle, diante de um evidente colapso. Camilo errou, principalmente, na forma. Ao tentar transmitir tranquilidade, mostrou o quão nervoso estava. Para tentar argumentar com jornalista sobre o controle que seu governo tem da situação, ele expôs a dimensão do perigo que atribui às facções: afirmou que, não fosse pelo domínio que a gestão estadual tem da situação, o jornalista nem conseguiria andar na rua. Não é animador?

Mas, qual a forma certa de responder a uma crise? É talvez a mais difícil tarefa de um governante. Sobretudo quando o problema envolve sentimento tão atávico quanto o medo, que motiva as reações mais irracionais. Não há receita pronta ou caminho seguro. Mas, vale observar a história.

LIÇÃO QUE VEM DE LONDRES

O primeiro discurso de Winston Churchill como primeiro-ministro na Câmara dos Comuns, no começo da Segunda Guerra Mundial, oferece muitas lições. Dificilmente tenha havido crise maior, emergência mais significativa. Após a greve de 2012, no Ceará, indaguei a Cid sobre a razão de seu silêncio. Ele respondeu: “O que eu podia dizer?”. A indagação explicita a falta de rumo. Mas Churchill ensina que, sem mentir ou omitir, há o que dizer em momentos tão graves: “Só tenho para oferecer sangue, sofrimento, lágrimas e suor”.

Não é animador, talvez não seja nem alentador. Mas, pelo menos, mostra que o governante está ciente das dificuldades e está ao lado de seu povo. O ex-primeiro-ministro do Reino Unido dá outras lições.
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CINCO PILARES

1) Seu discurso foi breve, pois não há muito a dizer. No início, tratou de mostrar ação imediata. “Fiz já a parte mais importante do trabalho de montar o governo. Formei um gabinete de guerra com cinco membros, que representam, com a oposição trabalhista e os liberais, a unidade nacional. Era necessário que tudo isto se fizesse num só dia, dada a extrema urgência e gravidade dos acontecimentos”.

2) A transparência e a honestidade sobre o tamanho do desafio foi fundamental para a credibilidade do discurso e para não mostrar um governante dissociado da realidade ou tentando iludir a população. “Temos perante nós uma dura provação. Temos perante nós muitos e longos meses de luta e sofrimento”.

3) Outro pilar do discurso foi a clareza e convicção sobre o que fazer. “Perguntam-me qual é a nossa política? Dir-lhes-ei: fazer a guerra no mar, na terra e no ar, com todo o nosso poder e com todas as forças que Deus possa dar-nos; fazer guerra a uma monstruosa tirania”.

4) Igualmente claro e convincente foi preciso ser sobre a meta a alcançar com tal estratégia. “Perguntam-me qual é o nosso objetivo? Vitória. Vitória a todo o custo, vitória a despeito de todo o terror, vitória por mais longo e difícil que possa ser o caminho que a ela nos conduz; porque sem a vitória não sobreviveremos”.

5) Um ponto crucial foi o quão importante é essa meta e quão grave seria não alcançá-la. “Compreendam bem: não sobreviverá o Império Britânico, não sobreviverá tudo o que o Império Britânico representa, não sobreviverá esse impulso que através dos tempos tem conduzido o homem para mais altos destinos”. Fez tão dramático diagnóstico como forma de envolver a todos, de buscar união. “Assumo a tarefa com entusiasmo e fé. Tenho a certeza de que nossa causa não pode perecer entre os homens”. É um caminho para momentos sombrios.

 

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