Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista
Michel Temer (MDB) tem popularidade insignificante e rejeição recorde. O poder de “contaminação” é expressivo. No Datafolha divulgado esta semana, 87% dos entrevistados disseram que não votariam em um candidato no caso de ele ter apoio do emedebista. Ou seja, as pessoas não apenas não gostam do presidente - não vão com a cara dele, ele diria - como o mero apoio dele é capaz de inviabilizar qualquer chance de o postulante chegar ao segundo turno. O ministro da Casa Civil, Eliseu Padinha, disse que Temer quer um candidato que defenda seu “grande legado”. Quem se dispor a fazer isso periga naufragar instantaneamente.
O número do Datafolha ilustra o porquê de o PSDB ter arranjado um jeito de sair do governo, apesar de as diferenças de visão administrativa nunca terem ficado claras. Mesmo assim, vejam só, o MDB encomendou pesquisa para avaliar as chances do presidente caso seja candidato. Terá o partido ficado louco? Não mesmo.
Primeiro, o MDB adora poder. Ganhou sabe-se lá como e não está disposto a simplesmente se resignar a sair dele dentro de 11 meses. Então, caso vislumbre alguma esperança, o MDB tentará que Temer seja candidato. Não é preciso muito para isso.
Nos cenários de eleição sem Luiz Inácio Lula da Silva (PT), Jair Bolsonaro (PSC) é o único pré-candidato que atinge 20%, e em alguns cenários. Aliás, um dado curioso: em cinco dos nove cenários, o Datafolha tinha números anteriores para comparação. Em todos esses cinco, com ou sem Lula, Bolsonaro oscilou negativamente. Coisa de um a dois pontos percentuais, variação dentro da margem de erro. Mas sempre oscilação negativa. O nome com mais intenções de voto se Lula não concorrer está, portanto, estagnado, com o que talvez seja viés de baixa.
Então, se Temer chegar a algo como 10% das intenções de voto - e, convenhamos, o presidente tem a máquina do governo nas mãos e gente disposta a usá-la - ele estará na briga pelo segundo turno. Se for candidato, terá muitos recursos, tempo generoso no rádio e na televisão. E conta com a expectativa de melhora na economia para talvez crescer. Quem chegar a um patamar medíocre que seja estará no jogo. E, para Temer, com a vantagem de mais tempo de propaganda que quase qualquer outro.
O problema é que Temer está longe desse patamar medíocre necessário. No Datafolha, ele alcança 1% das intenções de voto. O sujeito é presidente da República e tem desempenho de nanico. O MDB é apegado ao poder, mas não à custa de submeter o presidente da República a um vexame completo.
A história dá lições. Em 1989, o PMDB estava no poder. Ulysses Guimarães havia sido o presidente da Câmara dos Deputados que comandara uma histórica Constituinte. Porém, o governo estava aos pandarecos. Quando os peemedebistas perceberam que a candidatura não chegaria a lugar nenhum, trataram de abandoná-lo e se debandar para alguém mais promissor. Foi cristianizado, como se diz no jargão político. Ulysses não teve nem 5% dos votos, menos que os nulos. Menos até que o Afif Domingos, que era do PL e hoje é presidente do Sebrae.
Ulysses não era presidente, mas, convenhamos, Temer não é Ulysses. Se fizeram isso com o maior nome da história do velho MDB, o hoje presidente da República deveria colocar as barbas de molho.
O que, entretanto, não significa que o MDB, e Temer, não terão papel a desempenhar na eleição. [FOTO1] O PODER DE INFLUENCIAR Vá lá que Temer não tenha chance de ser candidato. Mas, daí ao MDB virar peça irrelevante na sucessão é outra coisa. Não foi em eleição nenhuma até hoje, não será justamente agora, com a Presidência. O partido tem estrutura, deputados, senadores, prefeitos governadores, tempo de propaganda, recursos. São muitos atrativos. Capazes de compensar a impopularidade de Temer? Talvez.
De modo que acho difícil Temer concorrer à reeleição, embora ele queira e isso não seja de se descartar. Porém, certamente ele e o partido terão papel relevante. Talvez de mais importância ainda no caso de o presidente não concorrer. O partido sempre operou melhor nas sombras, longe das atenções.
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