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O hub de facções
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

O hub de facções

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Aimportância estratégica atribuída pelo ministro da Justiça ao Ceará contrasta com o tratamento dado ao Estado pelo governo Michel Temer (MDB) na área da segurança. “Quem conquistar o Ceará conquista o Nordeste”, disse Torquato Jardim. Assim como se tornou hub para conexão de voos do grupo Air France-KLM, como é ponto de ligação de cabos de fibra ótica, o Estado é estratégico para o crime organizado. Não produz drogas, não fabrica armas. Não é também grande centro consumidor. Mas é ponto de passagem para a mercadoria ilícita que vem da Europa e dos Estados Unidos ou segue para lá.


Não é preciso ser um grande gênio para constatar isso. Quem já olhou o mapa-múndi pode perceber. A questão é: por que se demorou tanto a agir? Foi em 30 de janeiro que o governador Camilo Santana (PT) e o senador Eunício Oliveira (MDB) se reuniram com Michel Temer (MDB) e o presidente autorizou o envio de uma “força-tarefa imediata” ao Ceará. Isso faz três semanas e só agora o “imediato” se concretizou.


O anúncio de Temer foi resposta à comoção nacional decorrente de duas chacinas ocorridas no Ceará no intervalo de três dias, entre 27 e 29 de janeiro. O clamor baixou e o assunto foi esquecido. Foi necessário descobrir que líderes nacionais de uma das maiores facções criminosas do País estavam no Estado para que o prometido se transformasse em ação.


Chama atenção a diferença em relação ao tratamento com o Rio de Janeiro. Ok, a intervenção federal é pirotecnia eleitoreira, sem nenhuma perspectiva de solução ou resultado duradouro. Cumprirá seu papel imediato na redução da criminalidade e produzirá os efeitos políticos de que for capaz. Não se trata de pedir a mesma coisa para o Ceará. O ponto é que, pelo simbolismo da metrópole que se mantém uma das capitais culturais do Brasil, o Rio tem status de prioridade e outros estados não.


Com a manifestação de Torquato Jardim, o governo cearense ganha forte argumento em sua reivindicação de apoio para combater o crime organizado. Não faria sentido a força com que as facções disputam territórios — num Estado que não é produtor de droga, tampouco um grande consumidor final — não fosse a localização estratégica.


Desde o ano passado, o governo cearense patina sem saber o que fazer com as facções, enquanto o Governo Federal finge que não é problema dele. A frase do ministro talvez seja sinal de que o tempo acabou. Mas o problema não para aí.


O CUIDADO PARA A EXPANSÃO

Fortaleza receberá um hub dentro de três meses. No ano passado, foi inaugurado aeroporto em Jericoacoara e o de Fortaleza passará por expansão. A questão é: houve correspondente incremento de segurança para a operação dessa nova infraestrutura? Houve reforço da presença da Polícia Federal nesses espaços? Está de acordo com a demanda.

 

O Ceará já era valioso para organizações criminosas, tornou-se ainda mais e essa relevância crescerá de forma inestimável nos próximos meses. Muito da disputa de agora seja explicada pela preparação de terreno para o filão prestes a se abrir. O problema é grande hoje e periga se tornar incomparavelmente maior no futuro próximo.


O FIM DA REFORMA

O governo Temer oficializou ontem o fracasso na principal tarefa que estabeleceu para si — reformar a Previdência. Estabeleceu nova pauta prioritária no Congresso na área econômica, na tentativa de dar rumo a um governo perdido.

A economia é o carro-chefe desta administração desde sempre. A segurança se tornou a bola da vez desde a semana passada. A concretização do reforço no Ceará vem nesse bojo de uma nova fase para o governo.

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A desistência do governo em reformas a Previdência tem vários efeitos colaterais. Talvez até ajude o presidente, pois ele pode encontrar uma pauta menos árida e mais popular. Porém, dificulta bastante a vida de seu ministro da Fazenda, Henrique Meirelles (PSD), que sonha — ou sonhava — em ser candidato a presidente. A intenção já era otimista para quem tinha entre 1% e 2% nas pesquisas. Agora, a perspectiva de ser competitivo se torna ainda mais remota. Fracassou em sua prioridade maior.


Muita gente achou que a intervenção no Rio, entre outras coisas, foi uma saída honrosa para a Previdência. Se não foi isso, foi uma trapalhada sem tamanho dar-se conta apenas tardiamente que a reforma não poderia andar em meio à intervenção.

Foto do Érico Firmo

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