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Impacto político de um prognóstico positivo
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Escreve sobre política, seus bastidores e desdobramentos na vida do cidadão comum. Já foi repórter de Política, editor-adjunto da área, editor-executivo de Cotidiano, editor-executivo do O POVO Online e coordenador de conteúdo digital. Atualmente é editor-chefe de Política e colunista

Érico Firmo política

Impacto político de um prognóstico positivo

Tipo Opinião
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Poucas notícias são tão boas para um estado sertanejo quanto o anúncio de boas chuvas. Ainda mais quando o Ceará ainda cura as cicatrizes da mais prolongada estiagem de sua história. Há, obviamente, de se ter cautela diante do prognóstico da Fundação Cearense de Meteorologia e Recursos Hídricos (Funceme). É sempre uma análise de cenário, com percentuais de chances de se concretizar. O que se está falando é de uma probabilidade de chover mais do que a média histórica. O que não elimina a hipótese de as chuvas ocorrerem dentro da normalidade ou mesmo abaixo da média. Esse risco existe e está contemplado no panorama divulgado ontem.

Muito por desconhecimento, a Funceme costuma ser alvo de piadas e associada a erros de previsão. Pura ignorância. A fundação tem técnicos de excelência e tecnologia avançada. É cobrada quando erra uma previsão de que vai chover amanhã à tarde ou fazer sol daqui a três dias. Porém, em sua missão primordial, que é traçar perspectivas para a quadra chuvosa, a Funceme acertou cinco dos seis últimos prognósticos.

O último "erro" foi em 2012, quando estimou que haveria chuvas dentro da média, mas houve o primeiro ano da seca que durou até 2016. De 2013 a 2016, os cenários de poucas precipitações se mostraram certeiros. Em 2017, as chuvas em torno da média também foram previstas. É torcer para que não erre logo agora, quando traz o prognóstico de boa quadra.

Para se ter ideia do quão positiva é a projeção: pelo menos desde 2009, não há estimativa de chuvas acima da média histórica. Nem em 2009 e 2011, quando mais choveu nos últimos dez anos, a Funceme apontou panorama tão favorável quanto agora. A razão para otimismo vai além da projeção. A Funceme é costumeiramente cautelosa. Para traçar quadro favorável, deve estar muito bem fundamentada. Até porque esses dados servem para nortear políticas de governo. E aí chegou ao motivo pelo qual falo de chuva numa coluna de política.

A escassez de água é talvez o mais dramático problema enfrentado por Camilo Santana (foto). Aliás, o governador não deu sorte em muitas coisas que encontrou. Chegou ao cargo com criminalidade recorde e a saúde em crise. No segundo ano de mandato, seu partido foi extraído da Presidência da República num processo de impeachment, após ter passado 13 anos no poder. No lugar, assumiu um presidente do partido, àquela altura, mais hostil a ele. E, passou a administrar em meio à mais prolongada seca já registrada.

Seu antecessor, Cid Gomes (PDT), assumiu em ano de poucas chuvas, mas logo depois passou por dois períodos chuvosos que deixaram os açudes abarrotados de água — que até hoje sustenta o Ceará, aliás. Antes, Lúcio Alcântara assumiu com dois anos consecutivos de boas quadras, seguidos de dois anos de chuvas em torno da média. Nenhum governador, neste século, assumiu em cenário tão adverso quanto o atual.

Aparentemente, a sorte virou. Camilo caminha para ter o melhor período chuvoso justamente no ano em que buscará a reeleição. Até agora sem adversário, o petista caminha para campanha aparentemente tranquila. Mas, o eventual cenário de racionamento de água na Capital, somado à criminalidade e os problemas na saúde, são daquelas convergências que podem tornar incerto o que parece seguro.

A se confirmarem as boas chuvas, elas podem ser, portanto, importante elemento a favor de Camilo — ou, pelo menos, evitam se tornar problema.

O LIMITE DO TOLERÁVEL

Duas semanas atrás, escrevi que a decisão judicial que impedia a posse de Cristiane Brasil no Ministério do Trabalho dificilmente se sustentaria. Falava isso porque, salvo no caso de Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o Judiciário evita se envolver a esse ponto em questões administrativas. Citei como exemplo disso a quantidade de ministros investigados, indiciados e denunciados que Michel Temer (MDB) nomeou.

Porém, parece que a Justiça entendeu que o caso de Cristiane Brasil foi longe demais. Como havia escrito, “alcançou novos patamares do bizarro”. As condenações relativas a assuntos que deveria gerir parecem ter ido além do tolerável. Para completar, Roberto Jefferson (PTB), na tentativa de defender a filha, agravou a crise institucional. Disse que a Justiça do Trabalho é uma “excrescência brasileira” e uma “ditadura trabalhista”. Diante de tais manifestações, se amanhã ou depois ela for autorizada a assumir o cargo, com qual clima ela irá lidar com o setor do Judiciário com o qual terá relação direta?

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