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Um avião caiu em Milagres
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Um avião caiu em Milagres

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O destroço em Milagres é cheio de núcleos dramáticos. Daqueles inesperados que irrompem a normalidade do cotidiano da vida. Por acaso, sorte ou destino, não somos personagens diretos da história que desapareceu com 14 vidas. Seis delas, reféns.

 

Em meio a tantas falas, a que melhor resume o súbito talvez seja a do irmão do empresário sequestrado e assassinado com o filho por causa de um suposto erro de estratégia policial.

 

O empresário atravessava o Cariri cearense rumo à Serra Talhada (PE) para reencontros de Natal com a família e o irmão.

 

Ele contou que, por telefone, recebeu a notícia da tentativa do assalto, do inexplicável e sobre a morte sem sentido do parente.

 

Isso o abalara, mas quando chegou a Milagres foi que se devastou. Era como se tivesse caído um avião, um Boeing. Sentiu assim, brusco, no corpo.

 

Foi a imagem a mais avassaladora da tragédia para alguém que só perdeu. 

 

Por isso, também, a revolta com discursos infelizes de desconfiança sobre o que estariam fazendo reféns em uma madrugada de assalto a banco.

 

Passada a hora mais trágica, porém ainda latejante do luto de alguém que partiu, a narrativa precisa agora de desfechos.

 

O problema são as desconfianças sobre a qualidade dos procedimentos que poderão responder o que realmente aconteceu ali. Da parte mais técnico-científica da investigação. A começar pela perícia e o exame nos 14 corpos.

 

A tragédia foi na madrugada de sexta-feira e o IML de Juazeiro do Norte, que não tem estrutura ideal nem equipamentos para investigações desse tamanho, examinou as vítimas em menos de 48 horas.

 

Uma pressa que, mesmo justificada pela dor e a necessidade das famílias em velar seus queridos, pode refletir nas respostas sobre quem atirou nos reféns. 

Se a polícia ou os assaltantes.

 

Falo isso porque em Fortaleza, no caso da execução de Dandara, o promotor Marcus Renan fez duras críticas ao laudo cadavérico feito pela Pefoce. Por causa de um detalhe que quase bota abaixo a tese da acusação.

 

Apesar de ter sido submetida a uma longa sessão de espancamentos, chutes, pauladas, tabefes, chineladas... o documento investigatório atestou que não existiu tortura. Um contrassenso e quase eximidor da culpa da maioria dos réus acusado de homicídio.

 

Em Milagres, mais falhas. Uma fonte contou que o local do crime não teria sido isolado por um tempo suficiente para uma perícia mais aprofundada. Na verdade, após o tiroteio e o pavor daquele dia, havia morador da cidade com cartuchos na mão.

 

Virá uma reconstituição do cenário do destroço. Um confronto entre as versões sobre as mortes e o material coletado pelos peritos criminais.

 

A balística também será uma chave para saber quem matou os reféns. A questão é saber se a Pefoce daqui está plena de equipamentos para desvendar ranhuras de diferentes calibres usados durante a ação desastrosa.

No mesmo dia da tragédia era inaugurado aqui o Centro de Inteligência do Nordeste. Logo naquele dia! Com ministro e outros fulanos.

 

Se só houvesse assaltantes mortos, provavelmente, o discurso seria de êxito por causa da escolha dos bandidos pelo rumo do cemitério.

 

Uma tropa foi levada a um erro. Tai a primeira lição para o Centro de Inteligência do Nordeste.

 

O primeiro estudo de caso para mostrar como a entrega de um serviço precário de inteligência pode custar caro para o governador, o secretário da Segurança, para a tropa e, principalmente, para civis inocentes.

Foto do Demitri Túlio

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