Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.
O terror tocado por matadores e facções na Cidade tem um lado bom. Não é fazer a linha Pollyana diante de tanta barbárie e descambo para a banalidade de se assassinar e correr o risco de ser abatido em Fortaleza e nos descaminhos do Ceará.
Mas, parece, a história enfim começou a incomodar quem acha que carro blindado, cerca elétrica, helicóptero, segurança privada armada e outras besteiras resolvem a parada. Não é bem assim, mesmo nas zonas menos manchadas no mapa dos homicídios.
Na última semana, respondi parte de uma pesquisa extensa sobre quais caminhos poderiam servir para a Cidade sair da cova da insegurança. Uma consulta batizada de Rota Estratégica de Segurança Pública 2025.
[SAIBAMAIS]
Para minha admiração, uma iniciativa puxada pelo Sistema Fiec. A Federação das Indústrias do Ceará. Por que a surpresa? Porque os donos da fatia mais rechonchuda do PIB cearense, talvez, tenham percebido que o risco coletivo impacta sem dó nos lucros. E, mais básico, na chance de continuar vivo onde se assassinam de 12 a 17 infelizes por dia.
O chamado é para uma "construção coletiva" da paz pública e a escrita de uma "agenda convergente de ações para concentrar esforços e investimentos". Além do desenho de um "mapa com as trajetórias possíveis e desejáveis para a Segurança Pública" do Ceará.
O reforço policial, pelas demandas do questionário da Fiec, seria a prioridade. Aí mora uma discordância. Não estaria na hora de se romper com esta lógica e andar por caminho divergente?
A militarização das estratégias ostensivas, da investigação e da inteligência, como repete Camilo, nunca receberam tanto recurso desde o primeiro governo Cid Gomes até o dele. Mas não foi suficientes, 12 anos depois, para retomar a certeza da segurança. Nem a sensação.
Sim, porque talvez, a construção da paz coletiva tenha de seguir por outro rumo. Quebrar o modelo mental de que a SSPDS restabelecerá a tranquilidade com mais policiais, armas e viaturas nas ruas. Isso é essencial, mas não resolveu.
No espaço reservado a sugestões e em diálogos com a psicóloga Mariana Biermann, uma das responsáveis pela escuta da Fiec, perguntei se não estaria na hora de o Estado ter uma Secretaria Especial da Segurança Social? Nada a ver com a Ação Social e Trabalho...
Uma secretaria que encaminhasse a virada de prioridade e o desmanche honesto de uma mentalidade viciada.
Não somos urbanamente pacíficos nem cordiais, os números detalham. Carecemos de uma cultura de segurança social moldada no bairro.
A estratégia seria constranger o crime com uma oferta social ostensiva. Sem chance para o crime tomar o bairro, a rua, a vila, a calçada, a esquina. Imaginou um espaço como o gigante Castelão deixar de ser obsoleto quando não há futebol?
E o CFO potencializado e integrado ao Castelão, ao Cuca, aos salões paroquiais, às igrejas evangélicas, aos colégios públicos, às bibliotecas, a uma escola modelo Sesi/Senai, aos coletivos de cultura?
Diante do risco exagerado de homicídios não se pode mais falar em soluções a longo prazo. Não há mais espera. Já bateram e derrubaram a porta. Faz tempo.
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