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Adeus, Mara Hope
Foto de Demitri Túlio
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Repórter especial e cronista do O POVO. Vencedor de mais de 40 prêmios de jornalismo, entre eles Sociedade Interamericana de Imprensa (SIP), Embratel, Vladimir Herzog e seis prêmios Esso. É também autor de teatro e de literatura infantil, com mais de dez publicações.

Adeus, Mara Hope

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Vi algumas despedidas na última semana. Dar adeus, até mais ver ou até logo têm sentimentos misturados. Há o tempo em que é preciso acenar para o Mara Hope. Como se ele estivesse, finalmente, desencalhado e partido de Iracema.

Mas imaginou se, num sábado, amanhecêssemos e ele não estivesse mais ali. Desaparecido do banho de mar, tingido de tinta colorida e de ferrugem? Abandonado a gente da vontade e o medo de ir nadando até lá?

Pelo zap, Janaína me avisava da partida definitiva de Gabriela Lima. Perguntei quem era aquela moça tão moça na fotografia. E tinha decidido ir embora por que, minha Mãe? Depois lembrei. Foi uma das que mais brigou pelo Cocó na época da ocupação contra o viaduto.

Assessora jurídica do João Alfredo, então vereador, era uma ambientalista de plantão. Talvez herdada dos pais, gente das matas da Ibiapaba. Foi ser mestranda no Rio de Janeiro e, no Rio, resolveu ter a liberdade de encerrar sua narrativa de vida.

 

Uma pena! Uma decisão pessoal que teremos de aprender a conviver. Não sou dos que entendem, apenas rumino. E o que eu pensar é só tentativa besta de compreender o que não precisa ser explicado.

Mas é irresistível perguntar. Perguntei à Janaína. Tinha histórico das tristezas agudas e medicadas? Não. Sofria das dores que eu e você também puxamos de vez em quando e às segundas-feiras. Das dores que todos temos.

As árvores cortadas, os rios afogados, a política num beco perigoso, um amor desfeito, uma vontade de ter mais prazer no que se faz, a pobreza humilhante das esquinas, a vontade de pedir demissão, o risco de ser morto num assalto, a vida entre a Aldeota e o Gereba...

Fui vê-la pela última vez. Reverenciá-la mesmo sem ser íntimo de seus dias, mas por tabela de amigos ou causas comuns. Me deu saudade dela pelo pai que chorava por ali, da mãe inconsolável. Da chuva que resolveu cair em Fortaleza sem ser tempo de chover e enfriar.

Tenho mania, talvez herança de minha mãe Edmar, de rezar quatro orações pela travessia de alguém. Um Pai Nosso, um Creio em Deus Pai, uma Ave Maria, uma Salve Rainha. E chamo por Santa Rita de Cássia e por quem está na mata, não vejo, mas sinto me acompanhar...

Minha fé se tornou esquisita, sem vergonha, volátil, desconfiada..., porém ainda tenho alguma. Careço ter. E mais pelos outros, peço que as passagens sejam tranquilas. Mesmo na tragédia de pai e mãe enterrarem um ramo. Se meu abraço curasse a dor da saudade, era todo deles.

A moça, tão moça, me fez também lembrar das despedidas inexplicáveis da amiga Tânia Furtado, do amigo doutor Demócrito, do repórter Roberto Hipólito e de outros que foram Mara Hope libertos de algo que não adianta querer explicar.

Por último, uma companheira de Redação se despediu feliz do jornal. Vai com o marido para Portugal. Um recomeço de vida. Gentilmente, me presenteou com três livros. Dois de Leonardo Boff e um de André Trigueiro.

E escreveu assim num bilhetinho verde: “Gratidão, Demitri. Deixo com você livros ‘caros’ para mim. Como diz Leonardo Boff, que você reforce a sustentabilidade da vida”. Cris Fonte. 31.7.2018. 

 

Foto do Demitri Túlio

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