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Catarina, minha nega, tão querendo te vendê...

00:00 | 29/10/2017
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O nome talvez tenha nos batizados com o instinto de defesa.

Fortaleza. Parida com a necessidade de não ser predada nem ter o corpo tocado sem permissão. E daí, possivelmente, o “frivião” da resistência nos couros. Mesmo chibateado.

E não por birra, empacado de jumento ou pelo avesso de ser do contra. Não. Resistência no tino de querer existir, de desejar ser incluído nas possibilidades da Cidade todo tempo em situações de domínio.

Encontrei-me com um livro que me fez feliz. Pelo encurralamento de minha ignorância e o estalo de aclarar. Catarina, minha Nega, tão querendo te vendê..., do sociólogo José Hilário Ferreira Sobrinho.

E está sendo prazeroso ler para além da escravidão, do tráfico interprovincial e dos negócios do Ceará de 1850 a 1881. Encontrar por ali, naquelas páginas vivas, um povo que veio ser de Fortaleza na marra. Misturar-se à força e inventar desaceitação.

Resistiram para poder existir. Cai do cavalo com os “coletivos” negros, do corriqueiro, se opondo a imbecilidade do querer subjugar o outro. Inclusive entre pretos.

Por causa das lamparinas de Hilário Ferreira, fiquei com vontade de ler mais sobre as guerrilhas ou revoltas negras que nunca me contaram existir em Fortaleza. Minha escola foi branca, minha universidade também, minha rua, minha casa...


O motim dos pretos da Laura II, em 1839, contado pelo historiador Jofre Teófilo Vieira, é uma dessas instalações da memória que o livro de Hilário me fez ter mais sede.

Foi em águas cearenses, uma tragédia de 12 de junho, há 178 anos.

Uma tentativa de sobrevivência de cativos anônimos, revoltados contra os maus-tratos sofridos a bordo da nau que navegava do Maranhão para Pernambuco.

Mataram o comandante, o contramestre, o prático, dois marujos e um passageiro. Os escravizados tomaram o Laura II, mas ao desembarcarem na praia do Iguape nove foram presos, julgados e sentenciados “exemplarmente”. O ato não poderia tomar corpo.

Meia dúzia deles, conta Jofre Teófilo, foi condenada à pena de morte.

Outro foi para as galés perpétuas. O oitavo recebeu açoites e passou a andar com ferros. E um, de sorte ou destino em Fortaleza, foi absolvido.

Alguns foram enforcados no antigo campo da pólvora, vizinho à fortaleza de Nossa Senhora da Assunção. Onde hoje é o Passeio Público, que já foi Praça dos Mártires e outras reconstruções da travessia da existência daqui.

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