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Portugal é lindo, mas gosto é daqui

00:00 | 03/09/2017
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Qualquer dia desses, pego o beco, pulo da Ponte dos Ingleses, nado até o Mara Hope e vou. Ou tomo o vapor do Sérvulo, aquele navio de encantado que nunca se foi.

Mas, talvez, sair pelo Atlântico, procurar outros cantos não seja a melhor coisa a se fazer. Aqui na Terra é bom para os afetos, os novos e antigos amores. Para se criarem filhos ou não tê-los...

Há amigos, podem ser poucos. Mas quando os encontramos há abraços sinceros e palavras afáveis em meio a tanta gastura absurda.

Mesmo que haja assalto na esquina, mesmo com as calçadas tomadas por lixo, mesmo que as sombras sejam cada vez mais pouquinhas... Aqui é bom de se amanhecer e virar a noite.

A última de quase todo mundo, sem crer no que está andando para trás, é querer ser migrante em Portugal. Em Lisboa bela, Coimbra, Porto, Gaia, Óbidos ou Alcobaça de Inês e Pedro...

Lá é lindo! Não há assalto assim, não matam os meninos pretos das favelas, não há facções dominado o bairro, não há medo no ir e vir de qualquer horário e, mais do que aqui, gostam de achar importante a memória... Mas ainda sou mais Fortaleza.

Mesmo que as coisas fedam, mesmo que os políticos não sejam coletivos, mesmo que se fale mais de morte do que vida. Mesmo que as leis trabalhistas endureçam...


Entendo como a vontade de querer ir embora para Portugal, a desilusão com quase tudo. Mas ser migrante em Portugal ou qualquer longe vai adiantar o quê pra Cidade? Não é bairrismo, mas as histórias aqui têm de voltar a dar prazer.

No Bom Jardim, depois do “cinema de vizinhança”, me contaram a história da menina da Edisca, ex-Edisca e que monta um tablado e faz acontecer entre balas e morte de meninos novos.

Katiana Pena e a “A rua é noiz”. Tem algo de diferente acontecendo (ou voltando a se manifestar) no mundo fora da Aldeota que não se percebe por aqui.

E a dança dela e de mais 27 bailadores vai brigando contra a Cidade que eles querem caber, também, e alguém insiste em não deixá-los entrar.

Tem gente que não desiste. Quer ser feliz na Cidade que o pariu. Portugal é ótimo, mas não é aqui.


DEMITRI TÚLIO é repórter especial e cronista do O POVO

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