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Os bestas da cidade

17:00 | 19/08/2017

Há um bando de gente besta apaixonado pela Cidade. Povo que em vez de se preocupar com o mundinho particular da vida, sai gritando protestos de amores por Fortaleza. Coisa de quem não tem o que fazer.


E é tão desmedido o bem querer incondicional que perturba quem só enxerga na Cidade a possibilidade individual de se fazer. Como se, quando chegar a travessia, levassem as burras cheias de rapaduras de ouro. O Complexo de Tutancâmon.


Sobre os abestados, muitas vezes carimbados por ideologizar ou tornar poéticos os diálogos, as ruas e os bairros estão vazando. Magote de perturbados que fazem narrativas em muros, pintam postes, pedem espaço para as bicicletas passarem.


Há os idiotas que vivem à espera de passarinhos, espreitadores de beija-flores, anus pretos, gaviões de comer pombos, sibites das beiradas das varandas das casas e prédios. E acham uma lindeza a Cidade também construída por bichos.


Conheço também uns grupos que não podem ver uma árvore no chão ou a possibilidade da derrubada. Brigam, enchem o saco, defendem os ipês, se amarram nas castanholeiras. Contam, uma por uma, as plantas dos caminhos. E sabem quem anoiteceu e não amanheceu.


Como naquele inesquecível (e tristonho) Carnaval de 2011, na esquina da Virgílio Távora (antiga Estados Unidos) com a Santos Dumont. Uma destruição sem necessidade. Maldade. Cajueiros, mangueiras, coqueiros, flamboyants... Soins e outros bichos aperreados com as motosserras... Virou um cemitério na Aldeota.


São muitos os ajuntamentos de irracionais querendo calçadas dignas, ruas de sombra, menos carros, transporte coletivo que preste, praias limpas, águas de rios onde possam se banhar sem pegar “curuba braba”.


Um bando de iludidos pela Cidade, encarados como maconheiros, bichas, marginais, feministas, favelados, sapatões, pretos, comunistas, encrenqueiros, radicais, preservacionistas, militantes... Minha nossa, como são toscos e ultrapassados os velhos jargões!


Noutro dia, a invenção era “enquadrar” os rolezinhos e saraus da periferia. Da favela, mesmo. Qual o medo que faz um cardume de moças e moços jogando capoeira, discutindo a filosofia das quebradas, fazendo cinema de vizinhança, revolucionando a palavra e rejeitando a porrada do Raio?


Medo? Essa horda de gente besta, apaixonada pela Cidade, lá faz mal a ninguém! Bem querem a Fortaleza... Gosto desse povo abestado que insiste nos amores, mesmo difíceis, daqui!


DEMITRI TÚLIO é repórter especial e cronista do O POVO demitri@opovo.com.br



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