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Mexeu com uma, mexeu com tudo

01:30 | 16/04/2017
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Não é tempo fácil para os machistas de qualquer geração. Talvez não esperassem uma quebra de postura de quem, constrangida, permanece no silêncio e no medo de terminar sendo culpada pela invasão que sofreu.

 

José Mayer abriu a porteira e o efeito arrasa-quarteirão botou no olho do redemoinho alguns estudantes da Universidade 7 de Setembro (Fortaleza), sete acadêmicos de medicina da Universidade de Vila Velha (Espírito Santo), Sílvio Santos e o médico/BBB Marcos. Bem feito.

 

E sem lições de moral ou querer escrever para ser “fofo”, fiquei assustado e, ao mesmo tempo, feliz com a exposição, pela TV ou por redes sociais, das aberrações dos machões.

 

Tirante os julgamentos, a inquisição internética, a indiferença dos conformados e o efeito manada, não havia como achar normal um idiota usurpar o corpo de uma garota sem o consentimento dela.

 

Nem acha engraçadinha a babaquice de universitários “brincando” com palavras e gestos escrotos para firmar a masculinidade (insegura) de cada um deles. Penso que nem se arrependeram de tão normais que são.

 

E quanto ao agressor Marcos, não carecia a Rede Globo e Tiago Leifert terem esticado tanto a baladeira em nome da audiência e o risco de alguém ser estrangulada.

 

O brother encurralou, imobilizou e golpeou a manipuladora Emilly em cadeia nacional. Maria da Penha nele e na emissora pra não virar isso mesmo.

 

Na edição do BBB do ano passado, a descompensada Ana Paula pegou o beco porque deu dois “tapinhas” em Renan. E não precisou uma delegada intervir

pra jornalista ser expulsa do programa de mau gosto.

 

Sim, são desconcertantes a vergonha alheia e nossos perpétuos preconceitos. Disso tudo, o melhor foi o desmantelo do senso comum e a possibilidade de uma guinada das mentalidades. Para alguns.

 

Dificilmente não temos algum preconceito de estimação travestido de bom humor ou na peinha de se revelar num escorrego de falso estresse.

 

Tenho uns mil, mas os amarro debaixo da pia e vou cortando o pescoço deles na proporção que vão se transformando em mefistofélicas quimeras.

É quando tenho a impressão de que menos idiota estou me tornando.


Dos vários grupos de Whatsapps já não correspondo ao que acho degradante pra qualquer criatura. Nem um “kkk” com três letrinhas mando de volta. Ainda tenho o defeito de gostar de algumas “pegadinhas”


Nunca frescamos tanto, em tempo real, com quem fala “errado” o português ou o estrangeirismo virtual; de quem bebeu e amanheceu sem as pregas; de quem foi preso e acha que está no BBB; de idoso tentando transar; de bichas quas-quas inventando marnotas; de traições flagradas pelo celular; das gostosas que devem levar chibata...


É o senso comum que nos atola nas crenças imbecis e vamos compartilhando, viralizando. Perpetuando o preconceito e dividindo as criaturas entre superiores e inferiores. Em melhores e piores. Daí o machismo, o trumpismo, o temerismo, o putinismo, o malafaismo...

 

Tem jeito? Penso que tem...

 

DEMITRI TÚLIO é repórter especial e cronista do O POVO demitri@opovo.com.br

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