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Leonelzinho pagava multas eleitorais e até pensão com verba da Câmara, diz juiz
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O jornalista Carlos Mazza já foi repórter de Política, repórter investigativo, coordenou o núcleo de jornalismo de dados do O POVO e atualmente é colunista de Política

Carlos Mazza política

Leonelzinho pagava multas eleitorais e até pensão com verba da Câmara, diz juiz

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[FOTO1]Uma das figuras mais polêmicas da política cearense nos últimos anos, o ex-vereador Leonelzinho Alencar foi condenado pelo juiz Ireylande Prudente Saraiva, da 18ª Vara Criminal, a 11 anos e três meses de prisão, além do pagamento de 39 salários mínimos em multa. Junto com diversos outros réus, incluindo parentes do ex-parlamentar, Leonelzinho foi considerado culpado pelos crimes de peculato, associação criminosa e lavagem de dinheiro, realizados em concurso material.

 

Segundo o juiz, o ex-vereador teria montado um verdadeiro "esquema criminoso" em seu gabinete na Câmara, retendo parte do salário de servidores lotados no gabinete, que recebiam "quantias irrisórias". A prática, conhecida como "rachadinha", teria ocorrido livremente por vários anos, com desvios mensais de R$ 20 mil por mês.

Com o produto, atesta o juiz, Leonelzinho teria pagado contas particulares e do Instituto Jáder Alencar (ligado à sua família), multas eleitorais em pelo menos R$ 44 mil, adquirido automóveis e imóveis, "mesada" para os pais e até pensão alimentícia da ex-esposa Adriana Alencar. As irregularidades teriam sido encobertas através do uso de empresas ligadas ao ex-chefe de gabinete do ex-vereador, Paulo Alves Ribeiro Neto.

Segundo denúncia ajuizada pela Procuradoria dos Crimes contra a Administração Pública (Procap) em 2015 e confirmada pela Justiça na última sexta-feira, o esquema era operado pelo próprio Paulo Neto, que possuía os cartões e senhas de vários servidores lotados no gabinete do vereador. Todo mês, o operador sacava a verba e "descontava" boa parte dos salários, que eram então direcionados para outros fins irregulares.

Operador-delator

Ironicamente, o esquema foi revelado em boa parte por acordo de delação premiada formado por Paulo Neto, o operador dos supostos desvios, com o Ministério Público. Junto ao processo, estão anexadas dezenas de conversas entre o então chefe de gabinete e o ex-vereador, onde são discutidos os "ajustes" para a prática da rachadinha. Em várias, um número que seria de Leonelzinho aparece reclamando de dívidas diversas e tentando administrar o salário alheio. Pela contribuição às investigações, Paulo se livrou de uma denúncia-crime do MP pelos atos.

Perfil polêmico

Acusado de desviar recursos da Verba de Desempenho Parlamentar (VDP) em junho de 2015, Leonelzinho renunciou ao cargo afirmando que iria "se dedicar à defesa". Na época, O POVO revelou que o plano do parlamentar era, de fato, evitar uma cassação por quebra de decoro, o que o tornaria inelegível. Desde que foi eleito para o primeiro mandato, em 2008, o vereador tem mantido histórico de polêmicas. Em 2012, ele chegou a admitir que a ex-esposa Adriana teria sacado dinheiro irregularmente do programa Bolsa Família.

Outro lado

A Coluna Política tentou entrar em contato com a defesa de Leonelzinho, mas não obteve resposta. Em defesa nos autos, o ex-vereador afirma que as acusações do Ministério Público foram feitas sem provas, de maneira "injuriosa" a ele e ao Instituto Jáder Alencar. O ex-vereador diz ainda que não possui relação com Instituto (participando apenas de eventos sociais) e que acusações foram feitas a partir de "conjecturas vagas e imprecisas", tendo o próprio delator cometido as irregularidades descritas sem qualquer anuência do parlamentar.

A versão de Leonelzinho, em conflito com as provas que basearam a condenação, serão levadas agora ao Tribunal de Justiça do Ceará (TJ-CE) onde deve ser julgado recurso do parlamentar. Como foi condenado apenas em 1ª instância, Leonelzinho responderá o processo em liberdade.

 

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