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Fim das concessionárias de automóveis?

2018-07-05 01:30:00
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O que devem ter pensado os fabricantes suíços quando sugiram os primeiros concorrentes japoneses produzindo relógios de extrema precisão, acionados por minúsculas baterias e custando alguns poucos dólares?

Provavelmente previram a derrocada da relojoaria suíça. Ou pensaram em mudar de ramo. Mas o futuro foi muito mais risonho do que imaginaram e nunca seus relógios foram tão cobiçados no mundo inteiro, diante de uma mudança conceitual que os transformou em joias, ou objetos de coleção. Aliás, a rigor, ninguém nem precisa mais de um relógio no pulso pois até o mais mambembe dos celulares informa corretamente as horas.

Este foi o raciocínio de uma fábrica europeia de automóveis premium numa recente convenção com seus concessionários, preocupados com as ameaças e consequência do carro autônomo. Um diretor da fábrica comentou que o foco da empresa era no design de produtos cada vez mais sofisticados, sem deixar de acompanhar a evolução técnica, eletrificação e conectividade dos automóveis. Mas previa complicações para as grandes multinacionais do setor, as chamadas "generalistas", que baseiam a quase totalidade de seu faturamento em carros compactos e acessíveis. Disse não ter dúvida de que os clientes de seus automóveis, caros e sofisticados, terão eternamente o desejo do objeto de luxo. Seja relógio ou carro.

Faz lembrar uma história semelhante no Brasil. A Puma vinha de vento em pôpa no início dos anos 70 com seus esportivos com mecânica do Fusca. Quando a Volkswagen confirmou o lançamento de seu próprio esportivo, o SP2, foi um deus-nos-acuda entre os diretores da Puma. Certos de que não teriam chance de enfrentar um concorrente da toda-poderosa mecânica, correram para projetar outro esportivo, capaz de superar o VW SP2 em seu ponto fraco, a minguada potência do motor do Fusca. Lançaram o Puma Chevrolet com o baita motor seis cilindros do Opala, mas um desastre em termos de suspensão, acabamento, etc. Entretanto, imaginaram jamais que iriam bater recordes de faturamento logo depois do lançamento do SP2: quase todos que o compravam se decepcionavam e optavam pelo carro da Puma, artesanal, exclusivo e de maior performance, pois oferecia diversas opções de motorização e câmbio.

Se o raciocínio do diretor da fábrica de carros premium estiver correto, como será o futuro das "generalistas"? O mercado vai sofrer uma mudança radical e a primeira baixa sensível será das concessionárias, pois suas vendas irão definhar. Seus clientes, ao invés de comprar um carro, irão apenas se cadastrar numa empresa de compartilhamento e a ter direito de uso. Apanha um carro (elétrico) num estacionamento e o devolve horas ou dias depois no mesmo ou em outro local. Será debitado pelo tempo ou quilometragem rodada. Ou vai se utilizar do Uber ou outro sistema de carros com motoristas. Estes grandes frotistas e locadoras é que determinarão o perfil dos futuros automóveis e os receberão diretamente dos fabricantes. Até a manutenção será simplificada com a eletrificação, que reduzirá substancialmente a necessidade de intervenções nos sistemas elétrico ou mecânico. E também nos reparos de carroceria, pois, com a entrada em cena dos autônomos vai ser raro um acidente que exija reparo.

Então, a previsão é de que Ferrari e Rolls Royce continuam a ser produzidos e comercializados em concessionárias. Mas, Gol e Palio sumiriam do mapa, assim como suas redes de revendas.

Eu mesmo já vou pensar em outra atividade profissional, pois quantos automóveis vão sobrar para serem testados, além dos premium? Como será o test-drive de um carro autônomo, ou para compartilhamento, fabricado pela Volkswagen, Fiat ou Renault exatamente de acordo com as especificações da Uber, Google ou da "Localiza Share a Car"?

O prêmio de consolação é que muitas outras profissões serão extintas ou modificadas: motoristas, tratoristas, maquinistas, pilotos de testes, manobristas, frentistas de postos, mecânicos, taxistas

Turbulências como essa já existiram no passado. Mas nunca tão radicais como essa que se aproxima.

 

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