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Transplante de útero em mulheres trans

2017-11-19 00:00:00
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Por Roberta Fontelles Philomeno

 

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1 Caminhando a passos largos e acompanhando as novas demandas e mudanças da sociedade, atualmente, os avanços da Medicina Reprodutiva já permitem o transplante de útero para mulheres trans. A novidade foi tema de debate no último Congresso Americano de Medicina Reprodutiva, que ocorreu no fim de outubro, no Texas (EUA). A cirurgia permite que mulheres que nasceram em corpos masculinos possam não apenas transformar seu corpo por fora, mas também por dentro, a fim de poderem se tornar mães e gerarem seus próprios filhos, se assim desejarem.


2 “A regulamentação dos direitos dos transgêneros e a liberdade de acesso às cirurgias de mudança de sexo já fazem parte da nossa realidade. As mudanças físicas e hormonais também já são uma rotina. Cirurgias de mudança de sexo e reposição hormonal já são capazes de transformar um corpo masculino em feminino. A presença de útero e ovários seria o que faltaria para obter definitivamente a transformação completa”, pontua o médico especialista em Medicina Reprodutiva Daniel Diógenes (CRM 8534 / RQE 6612), da Clínica Fertibaby, que esteve presente ao congresso, nos Estados Unidos.


3 Para isso, ele explica que, no caso dos ovários, já existe a técnica de transplante de tecido ovariano, utilizado em pacientes com câncer, após tratamentos de quimioterapia. “Congela-se o tecido ovariano antes da quimioterapia e, após o tratamento do câncer, se transplanta de volta o tecido com intuito de restabelecer as funções hormonais e reprodutivas da mulher. Nada, ainda, existe de transplante entre pessoas diferentes”, explica.

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“É direito de cada um definir seu sexo e sua forma de viver. Vivemos uma época de mudanças, avanços e de uma conscientização maior dos direitos de cada um na sociedade”. Médico especialista em Medicina Reprodutiva Daniel Diógenes.


4 No caso do útero, já foram realizados, com sucesso, transplantes entre pessoas diferentes. “Assim, o transplante uterino para uma pessoa trans levanta a possibilidade real e futura de uma gravidez”, esclarece Daniel. Poucos centros no mundo realizam a técnica. No Brasil, o Hospital das Clínicas da Universidade de São Paulo (USP) realizou o primeiro transplante de útero, da América Latina, no ano passado.


5 Após toda a transformação do corpo, por cirurgias e uso de hormônios, o útero transplantado poderá ser capaz de gestar. A retirada dos testículos, com a finalização da produção de testosterona e o uso de estrógeno e progesterona, transforma o corpo masculino em feminino. “Com a implantação do útero, bastaria a realização de uma fertilização in vitro, com uso de óvulos e espermatozoides doados, para gerar embriões e, assim, buscar a gravidez. O detalhe é que os espermatozoides podem vir do parceiro e até da própria pessoa, caso ela tenha feito o congelamento de espermatozoides antes das intervenções cirúrgicas e hormonais usadas na transformação do corpo”, explica o especialista.

 

6 Riscos: Sabemos que a gravidez após transplante de útero tem mais riscos e mais chances de problemas do que uma gravidez comum, tais como abortamento, trabalho de parto prematuro, pré-eclâmpsia (pressão alta na gravidez), restrição de crescimento intrauterino e baixo peso ao nascer. Entretanto, apesar do uso das drogas imunossupressoras (medicações que interferem no sistema imunológico para diminuir o risco de rejeição) que precisam ser utilizadas, não parece haver maiores riscos de malformações. “O risco de rejeição também existe, mesmo na gravidez”, conclui médico especialista em Medicina Reprodutiva Daniel Diógenes.


Adriano Nogueira

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