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Quando há menos fôlego e muito perigo
Ciência e Saúde

Quando há menos fôlego e muito perigo

A insuficiência cardíaca é uma síndrome que afeta diretamente a condição física do paciente. De difícil diagnóstico, precisa ser investigada corretamente
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Um perigo nem tão silencioso, mas ainda negligenciado por pacientes e médicos. A insuficiência cardíaca, que consiste na dificuldade de o coração bombear sangue, é a doença final de outras patologias cardiológicas. Dela se derivam inúmeros problemas. Subnotificada, com pouco ou nenhum monitoramento e, principalmente, diagnóstico impreciso. Nem os próprios médicos conseguem identificar a enfermidade facilmente.

Pernas inchadas, cansaço em pequenos esforços, falta de ar. Estes são os principais sintomas, embora haja muitos outros. Por isso seu diagnóstico é tão difícil. "A doença é complexa. É preciso conversar com o paciente, saber a história dele, seus dados epidemiológicos. E isso requer tempo. O que geralmente acontece é o médico pedir exame. Em alguns casos, os exames mostram, mas em outros não", explica o coordenador da Unidade de Transplante e Insuficiência Cardíaca do Hospital do Coração de Messejana, João David de Souza Neto.

O professor Renato Feitosa, 59, foi à emergência três vezes relatando cansaço antes de ter seu diagnóstico fechado. A rotina de aulas em três períodos já não era fácil e, à noite, ainda tinha muita dificuldade para dormir. Chegou a receber prescrição para tomar uma vitamina. Mais um mês sentindo os sintomas para só então ser diagnosticado com insuficiência cardíaca. "Fiquei três anos sem trabalhar. Voltei, passei cinco anos e depois comecei a cansar de novo", conta. A descoberta da doença aconteceu há 19 anos e, até hoje, tomar todos os remédios de forma correta é um desafio.

Os poucos números sobre a insuficiência cardíaca no Brasil assustam: 2,8 milhões de brasileiros doentes, margem de 50% sem identificação e taxa de 80% de reinternação. Junto às estatísticas, pacientes que não aderem ao tratamento e médicos que confundem os sintomas da insuficiência cardíaca com bronquite ou pneumonia. Alguns até acham que está tudo bem, gerando tratamentos equivocados e subnotificação dos casos.

Em julho, a segunda fase do I Registro de Insuficiência Cardíaca - Aspectos Clínicos, Qualidade Assistencial e Desfechos Hospitalares (Breathe - em inglês) trará boas notícias. Desenvolvido desde 2011, o estudo observou que a taxa de mortalidade intra-hospitalar diminuiu de 12% para 8,4%. "Isso pode significar que o alerta sobre a insuficiência cardíaca pode estar funcionando. Identificamos também que está tendo mais acesso a procedimentos cardíacos", afirmou o coordenador do estudo, professor da Universidade do Estado do Rio de Janeiro (Uerj), Denilson Albuquerque.

Apenas o transplante trouxe recuperação

A secretária Emiliana Monteiro Farias, 36, hoje transplantada do coração, desde os 15 anos convivia com uma cardiopatia chamada miocardiopatia hipertrófica. Passou 20 anos apenas se tratando com medicamentos até que o cansaço aumentou. "Um dia eu não conseguia mais nem andar direito. Fui para a emergência e já fiquei internada, a média de bombeamento do meu coração era de 22%", lembra.

Moradora do interior, Emiliana disse que não via cardiologistas com frequência e que os médicos nunca haviam diagnosticado nada sobre insuficiência cardíaca. "Uns três meses antes, fiz um exame que mostrou que a fração de ejeção estava com 48%. Talvez se eu tivesse tomado medicação não tivesse precisado do transplante", avalia.

Foram nove meses de espera por um coração, que chegou em outubro de 2018. Dezesseis possíveis doadores, dez negações por parte de familiares. Não podia pentear o cabelo ou dobrar o lençol da cama. "Comecei a reabilitação depois de dois meses do transplante, meio quilo em cada braço, 20 minutos na esteira. Hoje são 10 quilos e 40 minutos andando e até correndo".

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