Logo O POVO+
Biodiversidade ameaçada
Ciência e Saúde

Biodiversidade ameaçada

| MAMÍFEROS MARINHOS | As águas da costa do Ceará são casa para animais como peixes-boi e botos-cinza. Poluição e risco de pesca ameaçam a biodiversidade
Edição Impressa
Tipo Notícia Por
GRUPOS de golfinhos são vistos em Fortaleza  (Foto: IANA SOARES 24/6/2011)
Foto: IANA SOARES 24/6/2011 GRUPOS de golfinhos são vistos em Fortaleza

Não é tão incomum encontrar botos-cinza em pontos da orla fortalezense, como a Ponte dos Ingleses, o Porto do Mucuripe, o espigão da rua João Cordeiro e o Marina Park. Afinal, esses animais são residentes da costa cearense. Os mares que banham o Estado são moradia de diversos mamíferos marinhos, já tendo sido registrada a presença de 24 espécies de cetáceos como o golfinho. A biodiversidade é ameaçada por fatores próprios da intervenção humana, como a poluição e o risco de pesca.

A variedade presente nos mares cearenses inclui peixes-boi, botos-cinzas, jubartes, cachalotes e já houve registro até de uma orca. O boto-cinza é o cetáceo com maior índice de mortalidade no Estado, sendo registrados 500 animais encalhados nos últimos 24 anos. A população que habita a enseada do Mucuripe é uma das mais ameaçadas, com apenas 41 indivíduos, conforme a Associação de Pesquisa e Preservação de Ecossistemas Aquáticos (Aquasis). Espécie é considerada Patrimônio Natural de Fortaleza.

A bióloga Amanda Oliveira, estudiosa de mamíferos marinhos, aponta que a espécie encontrada no Ceará que sofre maior risco é o peixe-boi, presente hoje no Brasil apenas no Nordeste. Último levantamento da espécie, feito em 2013, contabilizou apenas 1.100 animais na extensão de 7.491 quilômetros do litoral nordestino. Um dos principais entraves é o encalhe de filhotes, comprometendo a perpetuação da espécie.

"Eles encalham porque eles se separaram das mães e eles não têm condições de nadar e se alimentar sozinhos", justifica. Isso ocorre com frequência porque a espécie costuma migrar para rios na hora de dar a luz. Devido ao assoreamento desses afluentes, muitas vezes o nível de água é muito baixo, evitando a ida do animal. Assim, o parto acaba ocorrendo no oceano, onde a presença de embarcações e perturbações no mar favorecem que mãe e filho se distanciem antes do tempo necessário.

Amanda explica que os peixes-boi mamam durante cerca de dois anos e em todo esse período aprendem com as mães como nadar e se alimentar sozinhos. A reprodução da espécie também é lenta, já que as gestações de peixe-boi duram 12 meses e raramente resultam em mais de um filhote. A bióloga elenca outros motivos que levam espécies marinhas a encalharem: risco de pesca, poluição, ingestão de plástico, óleo de embarcações que pode causar doenças.

Para o professor adjunto do departamento de biologia da Universidade Federal do Ceará (UFC) Vicente Faria, a preservação da biodiversidade marinha cearense é uma preocupação frequente e que tende a aumentar devido ao aumento de espécies consideradas ameaçadas. Ele esclarece que, para um animal ser considerado ameaçado são considerados critérios como número da população, queda de abundância e local de ocorrência.

Segundo ele, o Governo do Estado está elaborando, com UFC e Universidade Estadual do Ceará (Uece), um levantamento ainda inédito contendo informações de que espécies do Ceará estão correndo riscos de extinção. Ele destaca que trabalho de ONGs como a Aquasis ajuda para que a biodiversidade resista, apesar dos impactos humanos. "Ninguém sozinho consegue cuidar de todos os problemas. Se tivesse mais gente, estaríamos com nossa costa mais preservada", afirma.

Espécies costeiras ameaçadas no Ceará

Peixe-boi-marinho

Nome científico: Trichechus manatus

Nome comum: manati, manatim-das-caraíbas, manatim, manaí e vaca-marinha

Categoria de risco de extinção e critérios: Em Perigo (EN)

Garajau-real

Nome comum: Trinta-réis-real

Nome científico: Thalasseus maximus

Categoria de risco de extinção e critérios: Em Perigo (EN)

Tartaruga-de-pente

Nome científico: Eretmochelys imbricata

Nome comum: tartaruga-de-escamas, tartaruga-de-casco-vinho, tartaruga-legítima e tartaruga-verdadeira

Categoria de risco de extinção e critérios: Criticamente em Perigo (CR)

Tartaruga-marinha-comum

Nome científico: Caretta caretta

Nomes comuns: tartaruga-amarela, tartaruga-cabeçuda, tartaruga-meio-pente ou tartaruga-mestiça

Categoria de risco de extinção e critérios: Em Perigo (EN)

Tartaruga-oliva

Nome científico: Lepidochelys olivacea

Nomes comuns: tartaruga-olivacea e tartaruga-pequena

Categoria de risco de extinção e critérios: Em Perigo (EN)

Tartaruga-de-couro

Nome científico: Dermochelys coriacea

Nomes comuns: tartaruga-gigante, tartaruga-de-cerro e tartaruga-de-quilha

Categoria de risco de extinção e critérios: Criticamente em Perigo (CR)

Peixe-serra-de-dentes-pequenos

Nome científico: Pristis pectinata

Nome comum: espadarte

Categoria de risco de extinção e critérios: Criticamente em Perigo (CR)

Já não ocorre no Ceará há décadas.

Mero

Nome científico: Epinephelus itajara

Nomes comuns: merote, bodete, badejão, mero-preto, canapu e canapuguaçu

Categoria de risco de extinção e critérios: Criticamente em Perigo (CR)

O que você achou desse conteúdo?