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Cenário de epidemias é imprevisível
Ciência e Saúde

Cenário de epidemias é imprevisível

| ARBOVIROSES | O controle do vetor deve ser constante durante todos os períodos do ano, independente de ser registrado epidemia
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"Nós ainda não temos modelos preditivos capazes de afirmar se nós vamos ou não ter epidemias no ano seguinte. Tudo acaba sendo uma suposição". A afirmação é do médico especialista em Medicina Tropical do Ministério da Saúde (MS), Dalcy Albuquerque, e foi dada meses antes do início do período chuvoso no Nordeste. Momento em que as emergências lotam e as arboviroses aparecem de forma mais intensa. Sem certezas, dois fatos são preponderantes: o controle do vetor não pode ter arrefecido e a mutação dos vírus pode ter acontecido.

 

Ele lembra que, em 2015, ano em que os órgãos de saúde estavam preparados para a chikungunya, o zika entrou em cena. Infecção que quase passava despercebida, mas que deixou o rastro triste da síndrome congênita que causou microcefalia em fetos. "A chikungunya tinha tomado o Caribe, com mais de um milhão de casos em um ano. Quando vimos estávamos com uma epidemia de outro vírus na mão, com um número de casos espantoso para um primeiro momento e complicações que não conhecíamos", conta o médico.

 [SAIBAMAIS]

Apesar do acontecimento - e da epidemia de chikungunya seguinte - Dalcy confia nas ações de controle do aedes aegypti, que faz com que o órgão não projete um "quadro catastrófico". 2019 chegará após dois anos sem um número grande de casos. O que assusta e tem respaldo científico é a capacidade de mutação e adaptação dos arbovírus. Uma seleção natural para preservação da espécie. "Porque a chikungunya era endêmica na África há muitos séculos e agora tomou o mundo? Certamente isso está vinculado às mutações, adaptações, talvez até sobre o próprio vetor", pondera.

 

Por isso a vigilância epidemiológica é tão importante. Assim como a escuta aos rumores sobre saúde. De acordo com o especialista em Medicina Tropical, há várias situações que obrigam um olhar mais apurado. Uma virose misteriosa, quadros clínicos diferenciados, como no caso da zika. "Pegamos tudo o que aconteceu e, em menos de um ano, conseguimos esclarecer o que era", afirma. Parte desse processo de ação e reação caso uma epidemia esteja surgindo é baseado nas notificações sobre as doenças.

 

Mesmo apenas com critérios clínicos, sem comprovação, o protocolo é que já seja inserido no Sistema de Informação de Agravos de Notificação (Sinan). "Não adianta eu saber de um surto local de uma das nossas arboviroses 20 dias depois", considera. Mais números de relatos de casos numa rua, agentes de saúde e endemias que identificam sintomas repetitivos.. tudo colabora para que diagnósticos sejam feitos e ações de controle, acionadas.

A repórter viajou a convite do seminário Trends in news. Dalcy e as outras fontes deste Ciência & Saúde conversaram com O POVO durante seminário, realizando em Pernambuco, em setembro. O evento tratou de comunicação na área da saúde, avaliando estratégias, confiabilidade dos órgãos junto e os riscos aos quais as pessoas estão expostas. Ações de relevante importância quando o assunto são arboviroses.

Doenças

Arboviroses são as doenças causadas pelos chamados arbovírus, que incluem o vírus da dengue, Zika vírus, febre chikungunya e febre amarela.

 

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