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Uma mina de fósseis
Ciência e Saúde

Uma mina de fósseis

| Bacia do Araripe | Condições geográficas específicas colaboraram para que a Bacia do Araripe seja considerada uma das mais importantes do mundo
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As condições aquosas da bacia do Araripe há milhões de anos estão entre os principais motivos para as excelentes condições de fossilização encontradas no local. Reconhecido mundialmente entre os 10 sítios arqueológicos mais importantes do mundo, o local ainda sofre com o desconhecimento e contrabando de materiais.

 

De acordo com Álamo Feitosa curador e professor do Museu de Paleotologia da Universidade Regional do Cariri (Urca), estudos apontam que houve no local há milhões de anos condições bastante propícias para a fossilização de animais e vegetais. "Aqui como houve um crash da crosta terrestre, uma quebra de separação da África da América do Sul se formaram vários buracos entre os quais a bacia do Araripe, então essa depressão na crosta estava mais baixo do que muitas partes que estavam cobertas por mar, corria água doce, um conjunto de lagos muito grande, mais ou menos 180 quilômetros de comprimento por 50 quilômetros de largura", explica.

 

Ainda conforme ele, no processo chamado de transgressões marinhas, existia uma fauna muito diversificada, bem como uma flora que rodeava esse conjunto de lagos. Nesses locais houve baixa concentração de oxigênio. O que resultou na lenta decomposição da fauna e da flora. Além disso, a alta quantidade de carbonato de cálcio nessas águas auxiliou a fossilização desses materiais.

 

Não é possível sequer estimar uma quantidade de espécies vegetais ou animais existentes na bacia. Existe uma denominação paleontológica de origem alemã chamada Lagerstätte. É um dos instrumentos de avaliação das condições dos sedimentos, dos depósitos sedimentares, das jazidas, que apresentam fósseis extraordinários com preservação excepcional, por vezes incluindo tecidos moles conservados, como é o caso dos vegetais.

 

Na bacia, duas das formações correspondem a esse conceito: Crato e Romualdo. "Nós encontramos vegetais, encontramos camarões super delicados, de um centímetro. Nenhum lugar do mundo encontra e a gente encontrou, isso é mais um exemplo dessa importância da região", estima Allysson Pontes Pinheiro, pró-reitor de pós graduação da Universidade Regional do Cariri (Urca).

 

De acordo com a pesquisadora Edenilce Peixoto, a Bacia do Araripe é comparada a estratos que tem na China e na Alemanha de fósseis perfeitos. "Estes sítios fossilíferos desde a época de Dom Pedro já têm causado interesse entre os cientistas pela qualidade os fósseis, a diversidade e a quantidade dos fósseis e isso têm propiciado algo meio negativo que é o contrabando", diz.

 

Uma reportagem especial publicada em setembro de 2017, O POVO já chegou a denunciar o contrabando destes materiais e a livre venda pela internet. O professor Álamo lamenta que apesar de ser considerado importante em todo o mundo, os investimentos em fiscalização e pesquisa ainda são incipientes diante da riqueza de materiais. "Do ponto de vista da população, falta a gente olhar mais para o interior e entender o que a gente tem no Brasil, o Brasil do litoral precisa olhar para o Brasil do interior", conclui.

 

Reportagem especial

A Bacia do Araripe é considerada um dos mais importantes sítios arqueológicos do mundo com espécies inclusive de raríssima fossilização em ótimo estado. Condições geográficas propícias transformaram a paisagem cearense numa espécie de janela para o entendimento da transformação da vida há milhares de anos. Em setembro de 2007, reportagem especial sobre os fósseis contrabandeados foi destaque no O POVO. O material, produzido pelo repórter Demitri Túlio, denunciava o comércio ilegal de fósseis pela Internet.

 

 

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