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Fóssil revela nova espécie na bacia do Araripe
Ciência e Saúde

Fóssil revela nova espécie na bacia do Araripe

| Vegetal | Denominada Pseudofrenelopsis salesii a espécie viveu a mais de 110 milhões de anos atrás
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O processo de fossilização já é em si considerado algo raro e a fossilização de materiais vegetais pode ser considerado mais singular ainda devido à estrutura frágil das plantas. Neste último mês mais uma espécie de fóssil vegetal foi descoberto na bacia do Araripe. A estimativa é de que o vegetal chamado Pseudofrenelopsis salesii, tenha vivido no período Cretáceo, aproximadamente 110 milhões de anos atrás.

 

Análises da anatomia da espécie mostram que ela advém da família das coníferas, um grupo extinto, representado no Brasil pelas araucariaceas, ou seja, os pinheiros típicos da região sul e sudeste. As coníferas (Cheirolepidiaceae) no entanto não chegaram a ultrapassar o período Cretáceo, tendo sido extinta há cerca de 65 milhões de anos.

 

"Lá (na bacia do Araripe) tem a formação Crato, que é uma camada de sedimentos mais basal, então os fósseis desse estrato ele tem aproximadamente 120 milhões de anos. Acima dessa camada tem a camada do gesso, e a espécie que eu descrevi vem de uma camada acima dessa camada do gesso, a camada Romualdo", explica Edenilce Peixoto, autora da pesquisa. Ela é do Programa de Pós-Graduação em Ecologia e Recursos Naturais da Universidade Federal do Ceará.

 

Conforme ela, as características dos fósseis dessa camada é que eles são envolvidos por uma concreção calcária. No momento de fossilização, o fóssil libera substâncias que faz com que o sedimento ao redor, o carbonato de cálcio, se entranhe ao redor do fóssil, o que faz com que a concreção apresente formato semelhante ao do fóssil.

 

Para se ter a ideia das boas condições da espécie, fósseis do mesmo gênero só foram encontrados no mundo todo preservados em pequenos fragmentos, com um ou no máximo dois nós. O novo fóssil mede cerca de 45 centímetros e tem três dimensões. Ele já compunha o acervo da coleção de paleontologia do departamento de produção mineral do Crato, no entanto, só mais recentemente pode ser catalogado como nova espécie. Além de possibilitar estudos sobre características vegetais do período, com a peça é possível ainda vislumbrar informações sobre as características geográficas do período.

 

"Supõe-se que era um gênero que de uma forma geral se quebrava facilmente nessa região de contato com os entrenós. O fragmento estudado tem aproximadamente 45 centímetros e de três a quatro ramificações, acredita-se que esse espécime viveu próximo ao ambiente deposicional", explica Edenilce. Conforme ela, a suposição é de que devido o bom estado do fóssil tenha existido pouco transporte até ser soterrado no ambiente onde foi depositado e encontrado. Estima-se ainda que o vegetal viveu junto com várias espécies de dinossauros, pterossauros, tartarugas e lagartos primitivos, entre outras que habitavam a região.

 

A pesquisadora chama atenção ainda de que é uma espécie consideradas xeromórficas, adaptadas a ambientes com estresse hídrico. "Esse estresse pode ser tanto um déficit hídrico, no caso de regiões áridas, ou por salinidade do ambiente", diz Edenilce. De acordo com ela, a chamada formação Romualdo reúne condições ideais para a preservação de diversas espécies vegetais.

 

Importância paleontológica

A doutoranda Edenilce Peixoto, uma das autoras da pesquisa, lamenta que a importância paleontológica da região ainda não seja tão valorizada. Conforme ela, apesar de maior rigor na fiscalização, ainda há muito trabalho a ser feito na valorização da região e no impedimento do tráfico e venda indiscriminada dos materiais da região. "Esse fóssil foi objeto de apreensão. Ele possivelmente não estaria sendo publicado, estaria fora (do País) se não tivesse sido apreendido pelo DNPM (Departamento Nacional de Produção Mineral), no Crato. Por isso a importância de manter os fósseis na região, como foi apreendido nos deu a oportunidade, a mim e meus co-autores, de descrever essa espécie e trazer mais um benefício para a região".

 

 

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