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Médicos divergem sobre eficácia
Ciência e Saúde

Médicos divergem sobre eficácia

| Crítica | A utilização da vitamina D em tratamentos de paciente com patologias autoimunes é alvo de críticas de médico. Falta de método científico e consequências renais são as principais ponderações dos especialistas
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Adeptos de tratamentos convencionais com medicamentos cuja eficácia foi aferida em pesquisas reconhecidas pela comunidades médicas, especialistas que tratam de doenças autoimunes no Ceará dizem que o uso de vitamina D para esses casos carece de estudos com metodologia aprovada. Ouvidos pelo O POVO, eles também alertam para a toxicidade que as superdosagens pode trazer e os danos ao sistema renal.

 

Citando a artrite reumatoide como a principal doença autoimune de consequência reumatológica, Francisco Airton Castro da Rocha, médico e professor associado de Reumatologia da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará, afirma que o tratamento farmacológico com anti-inflamatórios e imunossupressores tem evoluído ao longo das últimas décadas, dando ao paciente condições de controle da doença. "A medicação hoje fornecida pelo Sistema Único de Saúde (SUS) tem capacidade de deixar muito bem entre 40% e 50% os pacientes com artrite reumatoide", garante. E pondera: "O avanço na compreensão dessa ciência foi conseguido com método científico, não foi com achismo. Qualquer protocolo precisa passar pelo crivo da comunidade científica e A falta de uma pesquisa com acompanhamento de grupos de controle, em que se faça as aferições das potencialidades e eficácias do tratamento desenvolvido pelo médico professor da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp) Cícero Galli Coimbra com uso de superdosagens de vitamina D em pacientes com doenças autoimunitárias também é alvo de críticas do médico neurologista Paulo Ribeiro. Elencando a esclerose múltipla, a miastenia Gravis e síndrome de Guillain Barré como as três principais doenças neurológicas autoimunes, o médico aponta a falta de "embasamento na literatura médica". "Não há estudos de boa qualidade mostrando benefício sustentado desses regimes de alta dosagem de vitamina D comparados com o placebo (dar uma medicação sem efeito), muito menos comparados com as medicações já utilizadas que têm uma eficácia comprovada".

 

É o que também indica a dermatologista professora da UFC Genúcia Matos. Com pesquisa sobre o vitiligo, a dermatologista diz ter acompanhando casos de pacientes que apresentaram melhoras quando receberam suplementação com vitamina D. Ainda assim, ela observa que doenças autoimunes possuem forte componente psicológico e a crença do paciente na vitamina D poderia desencadear os benefícios, não necessariamente relacionados com a atuação efetiva da substância no organismo.

 

"De todas as doenças autoimunes dermatológicas, a que se comenta não só do uso de vitamina D, mas de vitamina C e A, é o vitiligo. Mas, em termos científicos, não se pode afirmar que a vitamina D faça parte do tratamento dessas patologias, porque não há rigor científico que possa afirmar isso", observa.

 

O comprometimento do funcionamento dos rins e o excesso de cálcio que resulta em cálculos renais são os principais efeitos colaterais do tratamento com superdosagens com vitamina D mencionados pelos três médicos.

 

Fazendo o tratamento de pacientes em Fortaleza por meio do protocolo desenvolvido por Coimbra, o médico Jonas Moura de Araújo, rebate as críticas ao método. Ele acredita que, por se tratar de uma substância produzida pelo ser humano em que não cabe, portanto, patente, falta interesse da indústria farmacêutica em investir em pesquisas sobre vitamina D. "Ele (o médico Cícero Coimbra) descobriu uma maneira prática de dar altas doses de vitamina D sem ser tóxico, porque é indicado a dieta com baixa ingestão de cálcio e é medida a função renal em exames periódicos. Isso é desconhecido pelos colegas médicos, porque existe a máxima de só validar práticas se elas vierem de congressos de ponta, que hoje são comandados por grandes farmacêuticas", acredita.

Domitila Andrade

 

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