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A vitamina D no combate às doenças autoimunes
Ciência e Saúde

A vitamina D no combate às doenças autoimunes

| Entrevista | O médico Cícero Coimbra explica o tratamento de doenças autoimunitárias desenvolvido por ele e adotado em mais de 4 mil pacientes ao longo dos últimos 16 anos
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Já se passaram 16 anos e 4 mil atendimentos desde que o médico neurologista, professor e pesquisador da Universidade Federal de São Paulo (Unifesp), Cícero Galli Coimbra começou a ministrar uma superdosagem de vitamina D em pacientes com esclerose múltipla, lúpus, dermatite atópica e outras manifestações autoimunitárias.

 

A despeito de parte da comunidade médica que aponta falta de comprovação científica no método, batizado de Protocolo Coimbra, ele comemora a eficácia do tratamento que, afirma, é capaz de deixar a esclerose múltipla, por exemplo, inativa em 90% a 95% dos pacientes.

[SAIBAMAIS] 

Coimbra acredita que já fez a formação no protocolo em mais de 120 médicos, a maioria do exterior, principalmente da Itália e da Alemanha.

 

O POVO - O senhor começou os tratamentos com vitamina D em 2002. O que levou ao desenvolvimento desse tratamento?

Cícero Coimbra - Na década de 1980, quando terminei minha formação clínica, fiquei insatisfeito com os recursos terapêuticos oferecidos aos paciente neurológicos que não resolviam os problemas. Eles apenas dão efeitos paliativos nas manifestações das doenças neurológicas. Eu estava insatisfeito com os resultados que esses protocolos proporcionavam, então comecei a fazer formação científica e trabalhar com pesquisa, primeiro em São Paulo e depois na Universidade de Lund, na Suécia, que na época em que estive lá era o principal centro de neurociência da Europa. Lá aprendi matéria básicas como imunologia, bioestatística, genética, biologia celular, biologia molecular, que são oferecidas nos cursos médicos de uma forma superficial, e tinha que estudar todos os artigos publicados a respeito da pesquisa que eu estava fazendo e tinha que saber diferenciar o que é cientificamente válido do que não é. Eu fiquei surpreso de verificar de que haviam muitas publicações que eram cientificamente válidas indiscutivelmente e que não eram incorporadas aos protocolos que eram publicados ou discutidas nos congressos médicos. O que foi o caso da vitamina D. Eu tomei conhecimento da importância da vitamina D para a regulação do sistema imunológico. E quando terminou essa formação científica, eu não pude ser mais o mesmo médico. Eu me senti na obrigação de usar esses recursos que estavam sendo relegados ao esquecimento em favor de drogas patenteadas pela indústria farmacêutica. A vitamina D não pode ser patenteada porque é uma fórmula natural do nosso organismo e isso contraria a lei internacional de registro de patentes. Passei a usar a vitamina D com objetivo de regular o sistema imunológico, e como as pessoas que têm problemas de polimorfismos genéticos e são por isso mesmo resistentes a vitamina D, a única forma de resolver esse problema é dar doses elevadas. É como se você estivesse forçando a chave na fechadura que está emperrada, pra fazer com que ela gire.

 

OP- O que se sabe sobre os tratamentos convencionais de doenças autoimunitárias?

Coimbra - Os tratamentos convencionais utilizam drogas imunossupressoras, são substâncias produzidas pela indústria farmacêutica que não são naturais do nosso organismo e que suprimem a atividade do sistema imunológico, como um todo, inclusive, dos programas normais que o sistema precisa manter em atividade para nos defender contra infecções de vírus e bactérias e de outros microrganismos. O efeito colateral principal é deixar a pessoa indefesa contra infecções oportunistas. Esse não é o caso da vitamina D. Ela é inclusive usada como tratamento suplementar de pessoas que têm tuberculose, porque a deficiência de vitamina D faz com que a tuberculose progrida, ou seja, ela não é um imunossupressor, ela estimula e potencializa o sistema imunológico.

 

OP - Como funciona o tratamento proposto pelo Protocolo Coimbra?

Coimbra - O carro-chefe é a vitamina D, mas como qualquer tratamento, o uso de doses elevadas acima de 10 mil e 20 mil UI (que são produzidas com exposição ao sol, e ninguém teve jamais qualquer efeito colateral por exposição por dez minutos ao sol forte) pode ter efeitos colaterais e é preciso evitá-los. A vitamina D aumenta a absorção de cálcio do intestino para a corrente sanguínea, e quando se dá doses altas de vitamina D é como se você abrisse completamente a porta que comunica o intestino ao sangue para que o cálcio pudesse passar, e absorve cálcio demais. E o cálcio em excesso é que vai provocar os efeitos tóxicos, principalmente em relação ao rim. Para evitar esse problema, o médico tem de estar habilitado a dar ao paciente uma dieta que não tenha cálcio em excesso, e somente o necessário para manutenção.

 

OP - Como estão as primeiras pessoas a quem o senhor tratou há 16 anos?

Coimbra - A principal doença que temos tratado que é a esclerose múltipla (EM) e o que temos conseguido é deixar a doença completamente inativa em 90% a 95% dos pacientes. E os pacientes que não atingem o efeito completo são pessoas que têm um nível muito, muito elevado de estresse emocional. E nesse momento estamos resolvendo esse problema. Mas os efeitos são muito superiores aos tratamentos convencionais. Isso não significa, no entanto, que a vitamina D curou essas pessoas, porque elas vão ter uma vida plena, mas vão ter de se manter com uso de vitamina D em doses altas para evitar que TH17 volte à atividade.

 

OP - O senhor fala em uma uma baixa de vitamina D na população em geral. A que se deve?

Coimbra - A vários fatores, mas essencialmente ao fato de que hoje a gente vive, estuda, trabalha em ambiente confinados, em que não se expõe ao sol, e quando se expõe usa filtro solar. Um filtro solar fator 8 bloqueia 95% da produção de vitamina D.

 

OP - Há perigos na superdose a longo prazo?

Coimbra - Existe um efeito colateral se essas pessoas que estão tomando doses altas, dependendo de quão altas, se elas estiverem inativas, sem atividades físicas, elas podem ir perdendo densidade óssea. A vitamina D até uma determinada dose, como 10 mil UI a 20 mil UI, ela aumenta a densidade óssea. Depois, tem uma faixa de doses diárias de vitamina D que não aumenta nem diminui, e depois as doses maiores que apresentam essa queda se não houver exercícios físicos. Então, recomendo atividades físicas para evitar esse efeito.

 

OP - Há contraindicação?

Coimbra - Sim. As pessoas que tomam vitamina C em altas doses não podem tomar dose altas de vitamina D. Pessoas que têm hipertireoidismo que não está controlado têm de primeiro controlá-lo. Porque essas duas situações podem levar à intoxicação.

 

OP - E quais os custos do tratamento?

Coimbra - Tomando a vitamina D, que é o essencial para o tratamento, a pessoa deve gastar entre R$ 50 a R$ 100 por mês. E os medicamentos convencionais, o Sistema Único de Saúde (SUS) despende de R$ 10 mil a R$ 15 mil por mês por paciente.

 

OP - Como o senhor rebate às críticas de que não é um tratamento cientificamente comprovado?

Coimbra - Eu não me preocupo em rebater. Estou preocupado em obter o melhor efeito pro meu paciente, em ajudar as pessoas que me procuram como médico. Eu explico, mas sem a intenção de rebater, porque faço esse tratamento. Eu me sinto na obrigação de oferecer ao meu paciente um tratamento voltado para a causa e não para os efeitos. Eu aceito que as pessoas não gostem do tratamento porque acham que não é cientificamente válido. Mas ele é absolutamente cientificamente válido. Se você tem uma pessoa com diabetes infanto-juvenil, você sabe que essas crianças não estão produzindo insulina, e essa é a causa da manifestação do diabete. Então, você dá a insulina. E não se faz um estudo controlado dando placebo para um grupo de crianças e dando insulina para outro grupo, porque se você não der insulina elas vão morrer. É o mesmo com a vitamina D.

 

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