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Pesquisas relacionam agravos a agrotóxicos
Ciência e Saúde

Pesquisas relacionam agravos a agrotóxicos

| UFC | Pesquisadores cearenses levantam casos de puberdade precoce, infertilidade e doenças genéticas em moradores e trabalhadores de comunidade rural onde há uso de agrotóxicos
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Duas iniciativas científicas da Universidade Federal do Ceará (UFC) investigam as consequências do uso de agrotóxicos nos trabalhadores e na comunidade rural da região de Limoeiro do Norte. No Ceará, a chamada "revolução verde", que impulsionou o investimento agrícola, teve um de seus alicerces estruturados na Chapada do Apodi. É lá onde funciona um dos perímetros irrigados do segmento de hortifruti do Estado. Também lá, pesquisadores encontraram casos de puberdade precoce, infertilidade em mulheres e alterações genéticas em trabalhadores.

 

Os exames de urina e sangue de Patrícia (nome fictício), da filha pequena e do esposo detectaram a presença de compostos dos grupos de agrotóxico que possuem Organoclorado. A mãe e a menina apresentaram níveis de HCH (Hexaclorociclohexano) e o marido demonstrou níveis desse e de outros cinco tipos de Organoclorado. "Ela nasceu com a vagina fechada e com oito meses já tinha alguns pelos lá", contou a mãe. Os exames que detectaram os compostos foram realizados como parte da tese de Mestrado da médica Ada Cristina Pontes Aguiar, intitulada de "Más-Formações Congênitas, Puberdade Precoce e Agrotóxicos: uma Herança Maldita do Agronegócio para a Chapada do Apodi".

 

Patrícia mora há 10 anos dentro de um sítio que cultiva bananas. "Eles usam o método de expurgo, que é através de um trator. Eles soltam tipo uma fumaça, um líquido. Esse sítio da frente, quando expurgava, vinha tudo pra cá, ninguém aguentava ficar aqui porque o cheiro era muito forte", lembra. Este método, conforme a moradora, não é mais tão usado, em decorrência dos muitos anos anos de seca. "Tudo isso aqui ficava branco de fumaça, sei lá, de aguazinha".

 

Quando precisa trabalhar nas plantações dos sítios vizinhos, o marido de Patrícia é quem protagoniza o processo de expurgo, hoje feito manualmente. Ela afirma que ele não usa material de proteção, faz esse trabalho há pelo menos sete anos e tem crises de dor de estômago diariamente. Mas se recusa a fazer uma endoscopia, por medo. "Mas eu acho que ele não tinha noção que o veneno prejudicava. Sabia que não fazia bem, mas depois que ele viu os exames, ele se tocou", diz.

 

Outra mulher, moradora de uma comunidade rodeada por plantações de banana, também esteve entre as pessoas integrantes da pesquisa da médica Ada Pontes. Antônia (nome fictício) sofreu um aborto espontâneo aos três meses de gravidez e, na segunda gestação, a filha nasceu com problemas cardíacos, uma síndrome congênita e más formações nas mãos e nos pés. Acabou falecendo aos três meses de vida. Os exames para identificar vestígios de compostos químicos, de acordo com Antônia, não acusaram presença de compostos químicos. "Eu não acho que foi de agrotóxico não. Sei que é perigoso, mas eu não tenho medo", afirma.

 

De acordo com Ada Pontes, desde 2007, ela e um grupo de especialistas realizam pesquisas na Chapada do Apodi, identificando casos de intoxicações aguda e crônica por agrotóxicos. "De 2011 para cá, a gente começou a estudar mais os casos de câncer, de má formação congênita e de puberdade precoce. São os agravos que têm sido relatados como aumentados", detalha a médica. Na comunidade estudada, de aproximadamente dois mil habitantes, nasceram, nos últimos quatro anos, cinco crianças com má formações graves.

Sara Oliveira, enviada a Limoeiro do Norte

 

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