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O tempo das conectividades
Ciência e Saúde

O tempo das conectividades

| DETOX DIGITAL | A mediação da tecnologia nas relações humanas e a convivência com o mundo virtual exigem, cada vez mais, equilíbrio
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Viver no tempo das conectividades implica, necessariamente, em viver conectado? Eis uma questão que a tecnologia carrega junto com as relações que restaura, os diversos mundos que aproxima e as milhares de informações que torna acessíveis. Peso para uns, extensão do próprio corpo para outros, o universo digital que cabe em um smartphone ou em um laptop precisa ser explorado sempre com cuidado, orientam especialistas.

Ninguém nega a importância da tecnologia para a praticidade da vida e na mediação das relações humanas. Da invenção do telefone, no século XIX, às redes sociais atuais, o avanço tecnológico segue construindo pontes entre as pessoas. Mas as formas de encontros ou mesmo os reencontros são opcionais. "O mundo digital veio com a proposta de unir pessoas. A diferença é quando pressiona. Temos a opção de dizer não", pondera a psicóloga Luciana Nunes, diretora do Instituto Psicoinfo, no Rio de Janeiro. "A disponibilidade do meio de comunicação não nos obriga a utilizá-lo de maneira compulsiva. O comportamento compulsivo é patológico", completa.
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O Instituto (www.psicoinfo.com.br) atua desde 1999 e tem se voltado para a "influência do mundo digital na demanda emocional". A equipe desenvolve, por exemplo, um programa de final de semana, para empresas, que é uma vivência sem celular e wi-fi. Uma forma radical, para restabelecer o controle frente a internet e os dispositivos eletrônicos: a tecnologia não pode escravizar o indivíduo, sublinha a psicóloga. Trata-se de aprender a "manter as relações mais significantes" - no mundo real e além.

"Cada um de nós deve dar os seus próprios limites", dialoga a psicóloga Anna Lucia Spear King, do Instituto Delete (www.institutodelete.com). "Eu, por exemplo, no uso da tecnologia, só trabalho no horário comercial. Você tem que dar seus limites, cada um sabe o seu limite. As pessoas têm que ver o que é bom para si", reflete.

A desintoxicação digital e o uso consciente da tecnologia norteiam pesquisas, consultorias e serviços do Instituto Delete desde 2008 - ligado à Universidade Federal do Rio de Janeiro e que se divulga como o "primeiro núcleo no Brasil especializado em detox digital". Adolescentes e jovens até, aproximadamente, 30 anos são a principal demanda do Delete, informa Anna Lucia King. "A demanda vem aumentando, conforme vão entrando, no mercado, aplicativos, jogos novos, redes sociais", avalia.

A dependência em torno do que é virtual e eletrônico, explica a psicóloga, pode se estabelecer em decorrência de um transtorno primário, que já fazia parte do indivíduo: a compulsão e a ansiedade, por exemplo. Prejuízos nos vários desdobramentos da vida (pessoal, acadêmica, profissional), no corpo (dores nos olhos e dedos) e na mente (uma depressão instaurada por acreditar que a vida - virtual - de todo mundo é melhor que a sua) indicam que é necessário buscar o equilíbrio. Quando há perdas nas relações, afetivas ou sociais, e quebra de um padrão de vida e de comportamento, dialoga Luciana Nunes, é um sinal de que o uso da tecnologia está se tornando abusivo.

Há 20 anos, ela atende dependentes da internet e demonstra: "O primeiro sinal não pode ser mascarado porque é aí que podemos intervir. Os sinais são como alerta de que a pessoa precisa parar e criar um equilíbrio entre o mundo digital e o real". Para Anna Lucia King, "o primeiro passo é entender que aquilo está sendo ruim para ele, de alguma forma. E começar a criar interesse em sair daquilo". Reconhecer que algo está errado e querer o tratamento adequado "depende da maturidade da pessoa", conclui a psicóloga.

 

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