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O comportamento fala
Ciência e Saúde

O comportamento fala

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O suicídio já foi tratado como pecado (na Idade Média, séculos V a XV) e como loucura (na Idade Moderna, séculos VI a XVIII). Somente na década de 1990, demarca a pesquisadora Dayse Miranda, “o suicídio passou a ser um problema de saúde pública (está em todos os grupos sociais). E ainda não conseguimos incorporar, na agenda da política pública, a prevenção”.  

O tempo deixou estigmas. “A questão do suicídio é uma situação que gera, em primeiro lugar, medo, rejeição e um tabu que até foi fortalecido pela questão religiosa”, dialoga o padre e psiquiatra Rino Bonvini. “Se achava que o suicídio fosse uma falta de respeito com a vida, com Deus, quase irreconciliável. Existe uma vivência de medo e exclusão do ato suicida”, relaciona. Assim, vive-se no silêncio e na culpa.
 

Além disso, considera o psiquiatra, está se perdendo o contato com o outro e consigo mesmo. “Também com o outro sobrenatural, divino... À medida que a pessoa tem contato consigo mesma, aprende a lidar com os próprios medos, fraquezas, necessidades. Buscar ajuda se tornou mais difícil porque as pessoas estão mais nos mundos virtuais”, diz.
 

Inércia, falta de energia, perda dos sentimentos se tornam a fala de alguém que silenciou a dor. “Às vezes, as pessoas não falam, verbalmente, mas deixam perceber”, atenta a psicóloga Rebeca Moreira Rangel. O comportamento comunica que algo não vai bem. “Gradualmente, a pessoa vai entrando numa espécie de vórtice que vai sugando para baixo... Por isso, é importante dar atenção aos sintomas de depressão e não relativizar”, soma padre Rino.
 

A ausência de planos, a desesperança na vida, a autoestima baixa são brechas onde cabem a pergunta: o que você está sentindo? “Seja a família, um amigo, o professor”, aponta Rebeca, qualquer pessoa próxima pode “tocar no assunto, pedir ajuda, encaminhar (a um especialista)”.
 

“A prevenção é monitorar quais as circunstâncias que podem tornar esse indivíduo ou grupo mais vulnerável”, esclarece a cientista política Dayse Miranda. A prevenção passa pela importância que damos a alguém, antes do fim. E toda vida importa. “Primeiro, é o acolhimento incondicional. Depois, é a escuta com empatia, que significa a capacidade de se colocar no lugar do outro, sentir o que o outro está sentindo e ver as possíveis soluções do problema, o encaminhamento”, norteia Rino Bonvini.
 

SERVIÇO
 

Em Fortaleza:

Movimento de Saúde Mental Comunitária do Bom Jardim: http://www.msmcbj.org.br.
Projeto 4 Varas, no Pirambu: https://www.4varas.com.br.

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