CARLOS ALBERTO S. ALMEIDA
PROFESSOR DA UFCcarlos@fisica.ufc.br
[FOTO1]Lamentamos a perda de uma das mentes cientificas mais brilhantes dos últimos 100 anos. O físico Stephen Hawking, conhecido mundialmente não só pelas suas contribuições à física, mas também pelo seu importante papel em divulgar ciência, faleceu neste último 14 de março. Considerado por muitos como o mais importante continuador da obra de Albert Einstein, faleceu na data em que nasceu o criador da Relatividade Geral, no ano de 1879.
Nascido em 8 de janeiro de 1942, na cidade de Oxford, Inglaterra, nos anos iniciais de escolaridade, não era um aluno destacado. Mas seus colegas e alguns professores pareciam perceber seu potencial. Seu apelido dessa época é “Einstein”. Contrariando o pai que o queria médico, aos 17 anos entrou na Universidade de Oxford para estudar física, embora preferisse matemática, mas esse curso não era oferecido pela Universidade. Em 1962, ele graduou-se com destaque e iniciou seu doutorado na Universidade de Cambridge na área de Cosmologia, o qual concluiu em 1966.
Durante o seu doutorado, aos 21 anos, Hawking é diagnosticado com Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença que paralisa os músculos do corpo. Segundos os médicos ele viveria no máximo mais 2 anos. No entanto em 1965 casa-se pela primeira vez e tem 3 filhos. Uma vez inquirido sobre sua vida sexual, mostrou o seu famoso bom humor respondendo que a doença paralisava seus músculos voluntários, mas não seus músculos involuntários.
Em 1979, Hawking é convidado a ocupar o cargo de Lucasian Professor of Mathematics, na Universidade de Cambridge, cargo do mais alto prestígio na Universidade, criado em 1663 e uma vez ocupado pelo físico Isaac Newton.
Sua mais importante contribuição à física é a proposta da emissão de radiação pelos buracos negros, previstos na Relatividade Geral de Einstein, e que tem esse nome por se acreditar que sua atração gravitacional é tão grande que nem a luz escapa dele. Portanto, contrariando esse paradigma einsteiniano, Hawking propõe que efeitos quânticos podem permitir que radiação escape do buraco negro, eventualmente levando a um decaimento do mesmo. Essa emissão de energia recebeu posteriormente o nome de radiação de Hawking.
Essa visão inovadora de que a cosmologia “clássica” necessita da Mecânica Quântica para melhor descrever o Universo, criou a chamada Cosmologia Moderna, a qual se considera em grande parte devida à Hawking. De fato, todas as teorias atuais que procuram construir a chamada quantização da Gravitação obedecem à esse conceito.
Nessa proposta de Hawking podemos detalhar a sugestão de que haveria microburacos negros no início do universo, logo após o Big-Bang e que eles poderiam decair emitindo radiação e dessa forma se extinguir. Cabe mencionar também a questão das singularidades que levou a uma rediscussão do Big-Bang. Dentro dessa análise, o Universo não teria limites.
Na analogia de Hawking seria como a superfície da Terra, onde não podemos definir um fim. Assim segundo ele, o Universo poderia não ter começado numa singularidade. Outra importante contribuição de Hawking é sobre a teoria da Inflação que teria ocorrido no inicio do Universo e explicaria a atual distribuição de galáxias e outros objetos cósmicos. Ao incluir efeitos quânticos nesse cenário, Hawking foi o primeiro a demonstrar sua viabilidade teórica.
Apesar de sua doença altamente incapacitante, Hawking teve uma vida extraordinariamente produtiva. Suas atividades de pesquisas, mas também seu engajamento social, tornou-o de certa forma no mais importante divulgador de ciência de sua época. Ele escreveu cerca de 14 livros, entre eles os famosos “O universo em uma casca de noz” e “Uma breve história do tempo”. Suas aparições em programas de TV, como The Big-Bang Theory, Simpsons, Star Trek, ou em música do Pink Floyd, o tornaram um ícone pop, levando sua figura, seu trabalho e suas opiniões a todo o mundo.
Era declaradamente ateu, tinha uma visão critica sobre os exageros da Inteligência Artificial, da mesma forma que alertava para a procura de civilizações extraterrestres, lembrando o que aconteceu com as civilizações pré-colombianas.
Hawking recebeu muitas honrarias e prêmios durante sua carreira, mas nunca ganhou um Nobel. Certamente aqueles que comprovarem seus conceitos serão agraciados.
Carlos Alberto S. Almeida é Doutor em Teoria Quântica de Campos pelo Centro Brasileiro de Pesquisas Físicas (CBPF), Rio de Janeiro, Professor Titular da UFC e pesquisador do CNPQ. Coordenador do curso de Mestrado Nacional Profissional em Ensino de Física – Polo UFC.
FRASES DE HAWKINGE
“A "Minhas expectativas se reduziram a zero quando tinha 21 anos. O restante foi um presente". (Entrevista ao New York Times, dezembro de 2004)
> "Acredito que o desenvolvimento pleno da inteligência artificial poderia significar o fim da raça humana". (Entrevista à BBC, 2014)
> "Vivo com a perspectiva de uma morte precoce há 49 anos. Não tenho medo de morrer, mas também não tenho pressa". (Entrevista ao jornal britânico The Guardian, maio de 2011)
> "Se os extraterrestres nos visitarem algum dia, acredito que o resultado será parecido a quando Cristóvão Colombo desembarcou na América, um resultado nada positivo para os nativos". (Documentário "Into the Universe", The Discovery Channel, 2010)
> "A cruz de minha celebridade é que não posso ir a lugar algum sem ser reconhecido. Não basta colocar óculos escuros e uma peruca. A cadeira de rodas me entrega". (Entrevista a um canal de TV israelense, 2006)
> "Encontrar a resposta para isto seria o grande triunfo da razão humana, porque então conheceríamos a mente de Deus". (Sobre o motivo da existência do universo, em seu livro "Uma Breve História do Tempo", 1988).