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Acesso a reimplantes ainda é restrito
Ciência e Saúde

Acesso a reimplantes ainda é restrito

Apesar do aumento dos casos de amputações por traumas, reimplantes ainda estão distantes do serviço público de saúde, atentam especialistas
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O acesso à microcirurgia reconstrutiva (ou reimplante) ainda é restrito, vivenciam os médicos que realizaram o reimplante múltiplo no operador de máquinas Francisco Nogueira Maia Júnior. Os especialistas afirmam que falta, na rede de saúde do Estado, um serviço especializado para casos desse tipo. Na maior parte das vezes, reforçam, opta-se pela cirurgia mais simples de fechar o local amputado, descartando a parte que, dependendo de cada caso, poderia ser religada ao corpo.


Júnior, o metalúrgico que buscou os primeiros socorros no Instituto Doutor José Frota (IJF), passou por essa experiência após o acidente de trabalho que amputou quatro dedos da mão esquerda. Ele conta ter sido encaminhado para uma sala de curativos do IJF, onde o médico teria lhe dito para jogar os dedos no lixo. Procurando outro atendimento, particular, o metalúrgico teve a mão reconfigurada e se recupera bem. O prognóstico médico é que ele poderá voltar ao mercado de trabalho e à vida, praticamente, normal.


O metalúrgico teve “sorte”, fala o cirurgião de mão João Mamede Soares Braga, um dos três médicos que integrou a equipe do reimplante múltiplo. Ele se refere, principalmente, a Júnior ter encontrado profissionais preparados e dispostos a fazer a complexa cirurgia. “A amputação é o caminho mais cômodo e mais barato”, contrapõe. “A sorte desse paciente é que estávamos disponíveis. Se a gente estivesse viajando, a conduta teria sido amputação, e ele perderia todos os dedos”, reflete.


A maioria dos pacientes que sofrem traumas desse tipo “ficam sem ter para onde ir. Alguns, quando têm bastante dinheiro, pegam um helicóptero para São Paulo. Na região Nordeste, só Recife (tem o serviço na rede pública)”, complementa Mamede. “Pacientes do Ceará, Norte e Nordeste ficam um pouco desamparados, têm poucas opções (de atendimento especializado)”, conclui.


E a incidência de casos é mais comum do que se imagina, informa o cirurgião de mão Valberto Porto, estimando dez casos/mês, em Fortaleza, e 15 casos/mês no Ceará. Não há estatísticas precisas sobre esta realidade, lamentam os especialistas, mas estimativas são possíveis a partir do cotidiano vivido no IJF e nas clínicas particulares onde atuam.


Desde a década de 1960, são feitos reimplantes, apontam os médicos ouvidos pelo O POVO. Os procedimentos começaram na China, com mãos e antebraços reimplantados. A técnica é conhecida “há algum tempo”, ressalta Valberto Porto. “Agora, as taxas de reimplante têm até mais de 90% de sucesso”, relaciona João Mamede. Para eles, a microcirurgia reconstrutiva deveria ser a primeira escolha. “Não tem nenhuma prótese que seja superior ao reimplante”, diz Mamede. Além de evitar a aposentadoria em plena idade produtiva, o procedimento também devolve a autoestima, ele completa: “Porque, em uma lesão, o paciente fica com trauma psicológico”.

Ana Mary C. Cavalcante

 

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