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Descontinuidade de investimentos prejudica ritmo das pesquisas
Ciência e Saúde

Descontinuidade de investimentos prejudica ritmo das pesquisas

As agências responsáveis pelo fomento da Ciência perdem força e dinheiro. Cortes representam riscos para a continuidade das pesquisas
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A estrutura que sustenta a produção de Ciência no Brasil são as agências fomentadoras. O destino dos recursos, o volume de dinheiro e as condições do pagamento variam de acordo com a agência e o segmento no qual ela atua: iniciação científica, pós-graduação ou pesquisa. Para que qualquer projeto seja colocado em prática, é preciso que haja disponibilidade de insumos, equipamentos e pessoal.


“Nós temos um ritmo de desenvolvimento em longo e médio prazos. Então, quando há cortes, essa cadeia se quebra. Repercute em todas as frentes”, avalia a representante dos coordenadores de pós-graduação no Conselho Universitário de Ensino e Pesquisa (Cepe), Verônica Teixeira. Impacto direto, conforme ela, é o desestímulo junto aos pesquisadores. Em 2017, cortes na graduação da Universidade Federal do Ceará (UFC) fizeram com que projetos aprovados por mérito, ou seja, viáveis do ponto de vista científico, não fossem selecionados pela triagem científica dos editais de pesquisa.


“Havia, por exemplo, um projeto que tratava do vírus da aids, tinha relevância, era importante, tinha mérito empírico. Mas não teve financiamento”, exemplifica.

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Verônica cita ainda como consequência direta da redução de investimentos prejuízos em pós-graduações stricto sensu, que demanda dedicação integral ao projeto; e a retirada da presença física de pesquisadores dentro das universidades.


“Os pesquisadores precisam se manter e, sem bolsas, acabam buscando o mercado de trabalho. Isso prejudica a qualidade da pós. E demandas normais do dia a dia acabam sendo feitas por videoconferência. Tira o que a universidade tem de mais precioso: a conversa, o contato, a aproximação entre fontes de pesquisa”, lamenta a coordenadora.


Organização

A descontinuidade de financiamentos assombra os pesquisadores principalmente pela descontinuidade de projetos já iniciados. Muda o fluxo já difícil entre universidades, agências e cientistas. Para se construir redes de pesquisa, laboratórios e ter resultados que cheguem à ponta da cadeia, continuidade é palavra de ordem.

 

A pró-reitora de pós-graduação e pesquisa da Uece, Nukácia Meyre Silva Araújo, explica que a instituição se organiza em função dos investimentos que costuma receber. “Se eu tenho um edital para compra de equipamentos que sai todo ano, planejo comprar isso neste ano e aquilo pode ficar para o ano seguinte. Essa é a segurança. Se descontinua, se esse edital não é lançado, quebra”, reforça. Ela destaca que nas últimas décadas foi possível alcançar grande desenvolvimento na área de pesquisa animal.


Uma das áreas mais afetadas, conforme a pró-reitora, foi a saúde. Pesquisas que trabalhavam com o SUS sempre tinham financiamento garantido, lembra. São estudos sobre processos de tratamento, cuidados e até diagnósticos. “Temos um mestrado chamado Renasfe (Rede Nordeste de Formação em Saúde da Família). Criado a partir da Fiocruz (Fundação Oswaldo Cruz) que trabalha só nessa área de atenção básica. Essa rede tinha financiamento e agora não tem mais, porque a Fiocruz não tem recursos”, diz.

Sara Oliveira

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