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Quando falha a memória
Ciência e Saúde

Quando falha a memória

Doenças cardiovasculares, diabetes e até estresse podem levar a problemas de memória em todas as idades
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Esquecer onde pôs as chaves de casa, ter de ligar para o celular para encontrá-lo, não lembrar de um compromisso ou não memorizar o recado que deixaram ao telefone. Essas são situações rotineiras para pessoas de qualquer idade e que podem ser causadas por fatores comuns do dia a dia, como uma noite mal dormida, acúmulos de afazeres, estresse, ou mesmo desatenção. Mas, se recorrentes e em situações cada vez mais sérias, demonstrando progressão, esses episódios devem soar como alerta para doenças que atingem a memória — principalmente se acometem pessoas acima de 60 anos.


“Todos os dias, atendo pacientes idosos que chegam com queixas de esquecimentos e vêm com medo do alemão — a doença de Alzheimer. E, claro, que é preciso investigar, mas, muitas vezes, os lapsos são de outra ordem que não demenciais”, aponta a neuropsicóloga e doutora em Neurociência Emmanuelle Sobreira.


Hipertensão arterial, diabetes, doenças cardíacas, da tireoide e respiratórias, etilismo exagerado, alterações no colesterol podem, conforme a médica geriatra Danielle de Menezes Ferreira levar a falhas de memória. Para o médico psicogeriatra do Hospital de Saúde Mental Professor Frota Pinto, Francisco Pontes, os lapsos de memória podem também ser ocasionados pelo uso de remédios, por déficits de vitaminas, como as do complexo B, e por quadro de depressão. Esses fatores podem, inclusive, atingir pacientes adultos que não adentraram ainda a fase idosa.


“O esquecimento pode vir como uma queixa associada a outras doenças. É preciso sempre investigar outras causas, mesmo que menos comuns, porque algumas delas têm potencial de tratamento e reversão”, detalha a geriatra.


Se não tratados, esses fatores podem agravar ou levar a lesões cerebrais irreversíveis, degenerativas e progressivas, chamadas de demências, que têm como principal fator de risco o avançar da idade. Demências vascular, frontotemporal, semântica, com corpos de Lewy e na doença de Parkinson são algumas delas. Demências afetam cada uma das áreas específicas do cérebro e apresentam, portanto, disfunções que não se resumem e não, necessariamente, se iniciam pela memória. A principal e mais conhecida delas é o Alzheimer, que atinge 35,6 milhões de pessoas no mundo e cerca de 1,2 milhão no Brasil, como indica a Associação Brasileira de Alzheimer (Abraz).


“Na doença de Alzheimer, são comprometidas as funções cognitivas, visuo-perceptivas, visuo-espaciais, executivas e de linguagem. As outras demências têm suas características. E é melhor para identificar quando o caso está no início. Quando o caso está avançado, é mais complicado fazer a diferenciação, porque há um misto de sintomas, que são comuns a todas doenças”, explica Rômulo Rebouças Lôbo, médico geriatra do serviço de Geriatria do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC).


Por isso, a geriatra Daniele alerta que, nessa fase da vida, as queixas não podem ser negligenciadas. “Mesmo que incipientes, é preciso relatar a um médico para que sejam observados as evoluções e o comprometimento cognitivo associado a queixa”, adverte.

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