Logo O POVO+
O bom e velho sexo
Ciência e Saúde

O bom e velho sexo

Pesquisa aponta que mais da metade dos idosos continuam mantendo a vida sexual ativa, a despeito do que estereótipos sociais pressupõem sobre a sexualidade nesta faixa etária
Edição Impressa
Tipo Notícia
NULL (Foto: )
Foto: NULL
[FOTO1]

Ir aos domingos ao Raimundo do Queijo, no Centro de Fortaleza, é ter a certeza de encontrar o sorriso de Ireuda Pires Lobão como um convite para dançar forró. Com a tez rosada banhada de sol, Ireuda exala uma sexualidade que poderia ser incomum a uma mulher de 73 anos. Morando há 12 anos sozinha após dois casamentos, a esteticista mantém a vida sexual e conversa abertamente sobre o assunto.


Ireuda faz parte de mais da metade dos idosos que continuam fazendo sexo, conforme aponta pesquisa recente do Datafolha. O estudo mostra que, longe de um estereótipo que relaciona o passar dos anos com o cessar das atividades sexuais, 53% das pessoas acima dos 60 anos mantêm o vigor da vida sexual.


“Há um mito de que o idoso é assexuado. E há um aspecto cultural que impõe vigilância sobre a pessoa idosa, e esses acabam sendo fatores que inibem a sexualidade nessa fase. Fazem com que o idoso adote comportamentos pautados pelas expectativas sociais”, indica João Macêdo Coelho Filho, médico geriatra, professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal do Ceará e chefe do Centro de Atenção ao Idoso do Hospital Universitário Walter Cantídio (HUWC).


Ireuda relembra que teve a espontaneidade e parte da sexualidade podada durante os casamentos e, com a separação e a maturidade, se desfez de amarras sociais. Ainda assim, percebe olhares e comentários pela postura com que leva a vida. “Só quem perderia ao se importar com o que falam seria eu. Tenho pra mim que o tempo passa e você não pode se limitar pela idade. Se me der vontade de dançar, eu danço, se me der vontade de beijar na boca, eu beijo, se eu quiser ‘sarrar’, eu ‘sarro’. Quem achar ruim velho na balada que fique em casa, porque meu lugar é no samba”, ensina Ireuda.


A pesquisa mostra que 83% dos homens mantêm a vida sexual após os 60 anos, mas, entre as mulheres, o número cai para 29%. “A sexualidade para a mulher era considerada, até há pouco tempo, apenas uma função reprodutiva. Se ela entra na menopausa, acabou a função. É estranho ainda para muitos que mulheres mantenham o desejo sexual. Isso é um tabu. Já para o homem isso não existe. Porque o homem tem alterações hormonais graduais, enquanto a feminina é abrupta”, detalha a ginecologista e sexóloga Margarete Fichera.


Depois da separação, Ireuda conta não ter tido relacionamentos longos, mas nem por isso deixa de buscar prazer. “Estou há um tempo sem transar, mas tenho meus quebra-galhos. Resolvo comigo mesma, e se der na telha ainda coloco um espelho na frente. Mas quando pintar alguma coisa boa, eu transo mesmo”, indica e diz que quer continuar aprendendo. “Todo dia aparece uma coisa nova e eu quero manter minha mente aberta para o prazer. Experimentar não custa nada. Acho que ainda tenho muita coisa pra viver na vida sexual, porque se tem uma coisa que não me falta é vontade”, conta.

O que você achou desse conteúdo?