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Os primeiros mil dias de vida
Ciência e Saúde

Os primeiros mil dias de vida

O Ceará avançou na redução da mortalidade materno-infantil. Mas ainda precisa dar mais qualidade à assistência pré-natal. O projeto Nascer no Ceará terá essa missão
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Uma gravidez dura, em média, 270 dias. Os dois primeiros anos de uma criança somam mais 730 dias. Temos então um marco essencial para o desenvolvimento e a estimulação infantil. Para se ter ideia do peso que esses mil dias têm, estudos já mostraram que crianças que tiveram restrições de crescimento ainda no útero, quando submetidos a uma mudança corpórea na vida adulta, como o sobrepeso, têm mais propensão a desenvolver doenças crônicas. A importância de cuidar da primeira infância começa já no primeiro mês de gestação.


“Quando analisamos a década de 1970, 1980, as principais causas de mortalidade infantil eram diarreia, pneumonia, doenças infectocontagiosas, que poderiam ocorrer no sexto, no oitavo ou no décimo mês de vida. Hoje, o que vemos como preponderante é o componente neonatal. A imensa maioria dos óbitos acontece no primeiro mês de vida”, descreve o pediatra Rui de Gouveia Soares Neto. Crianças que nascem com problemas que precisariam da intervenção direta de um pediatra na sala de parto, um sofrimento fetal não identificado, o nascimento prematuro em decorrência de uma doença gestacional.

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E dentro das causas evitáveis de mortalidade, uma questão preponderante: a assistência adequada durante o pré-natal. “Infecção urinária que não foi tratada, o não uso de medicamentos importantes ou a pressão arterial não controlada. A criança acaba nascendo prematura, com 500, 600 gramas, e por mais que se tenha cuidado na atenção neonatal, ela morre”, descreve. Conforme ele, quando é feita a análise de evitabilidade dos óbitos neonatais, percebe-se que a grande maioria dos óbitos evitáveis são por atenção pré-natal deficitária. O pediatra compõe a equipe que elaborou o projeto Crescer no Ceará, que tem a missão de acompanhar mais de perto as gestações, principalmente aquelas de alto risco.


Nascer no Ceará

O projeto pretende colocar em prática protocolos de atendimento, com foco no interior do Estado. “O protocolo é um guia para que a atenção primária consiga fazer a estratificação de risco da gestante. Saber como vincular essa mulher à atenção especializada”, explica a supervisora do Núcleo de Saúde da Mulher, Adolescente e Criança da Secretaria da Saúde do Ceará (Sesa), Silvana Napoleão. O objetivo é capacitar os profissionais e acompanhar a gestação, garantir a realização dos exames, o parto, o pós-parto e os dois primeiros anos de vida da criança. Posteriormente, monitorar os indicadores e conseguir reduzir ainda mais a taxa de mortalidade infantil. “Precisamos saber quem são as gestantes de alto risco para cuidarmos delas”, destaca. Essa linha de cuidados inclui ainda atenção ao desenvolvimento nutricional, psicomotor e psicossocial da criança.

 

SAIBA MAIS


No Ceará, 57% dos partos ainda são cesarianos, modelo voltado para a prematuridade


O projeto Crescer no Ceará será lançado em 2018. A qualificação de profissionais deverá ocorrer nos três níveis: primário, secundário e terciário


Em 2016, o Ceará teve 125 mil nascidos vivos. Nos últimos cinco anos, houve um crescimento gradual de 5% nesse número


Considerando padrões mundiais, 15% das gravidezes são de alto risco.

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