Da realização dos exames necessários no pré-natal à aquisição da linguagem, oral e escrita. Cuidar dos protagonistas do futuro não é uma tarefa fácil. A alta capacidade de absorção do que o meio oferta destaca ainda mais o potencial cerebral e de desenvolvimento das crianças e, portanto, exige mais atenção. Da mãe, do pai, do médico, do agente de saúde, do professor, do governante. A primeira infância, de 0 a 6 anos, é decisiva. A neurociência já afirma as repercussões das experiências vividas nesse período no indivíduo e na sociedade. E a efetivação das políticas públicas, apesar de ainda engatinhar, tenta priorizar essa fase da vida.
[SAIBAMAIS]Segurança, saúde, educação, vínculo afetivo, respeito, inclusão, equidade… “Para a criança, tudo isso faz parte de um mesmo processo, que a faz se desenvolver de maneira saudável”, destaca a diretora do Centro de Excelência e Inovação em Políticas Educacionais (Ceipe) da Fundação Getúlio Vargas (FGV), Cláudia Costin. Mas a sociedade e grande parte dos gestores ainda não despertaram totalmente para a necessidade de intervenção direta nesses fatores. E a execução de políticas públicas precisa estar ao lado do fortalecimento familiar positivo.
A pró-reitora de extensão da Universidade Federal do Ceará (UFC), Márcia Machado, alerta que os primeiros anos de vida são importantes para que tenhamos adultos mais seguros, menos violentos e com limites. Nessa perspectiva, a atenção à primeira infância tem o papel de driblar históricas carências de ações voltadas às crianças em seus primeiros anos de vida. Falta de vagas em creches — ou mesmo da qualidade dessa oferta — licenças maternidade e paternidade insuficientes, acompanhamento médico que não consegue identificar e tratar, além de segurança pública que não protege. “É nesse conjunto que alguns países mais ricos, em desenvolvimento, já experimentaram investir e está dando certo. A importância de ter uma rede que trabalhe em conjunto”, acrescenta.
No Ceará, os índices que retratam a atenção aos meninos e meninas variam entre excelentes e deficitários. A mortalidade infantil caiu de 29,6 por mil bebês nascidos vivos para 12,6 na última década. Mas ainda deixamos de identificar milhares de gravidezes de risco porque há ineficácia no pré-natal, principalmente no interior do Estado. Os resultados de alfabetização cearenses são reconhecidos como modelo em todo o País, enquanto apenas cerca de 30% das crianças entre 0 e 3 anos têm acesso à creche.
Na controvérsia dessa realidade, projetos que vislumbram um futuro melhor também já são realidade. A própria discussão acerca do tema, hoje exibe um tom mais otimista. Ações inovadoras têm sido colocadas em prática, como a capacitação de agentes comunitários de saúde e professores que vão a municípios carentes para compartilhar a importância do falar, brincar, estimular, beijar. Além da tentativa de monitorar e apoiar gestantes e crianças até dois anos dentro da rede de saúde.
O Ciência&Saúde de hoje tentará mostrar a importância de ir aonde a necessidade está, mesmo que seja para apenas incentivar a troca de afeto entre pais e filhos. Efetivar políticas que consigam contemplar as crianças em suas demandas ainda é um desafio entre os gestores, mas a sua importância tem sido cada vez mais provada. Afinal, Platão já dizia: “as crianças precisam de nutrientes, sociais e culturais”.
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